terça-feira, 29 de julho de 2008

Rapidinhas II

  • Cêis viram? A Obamamania chegou à Europa.Viram na Alemanha? Os gados aos delírios?

Vi no jornal uma foto do Barack ao lado do Sarkozy (Sarkô, para os súditos) e à noite, sonhei que Sarkô e Obama, já decentemente coroado presidente, lançavam uma ofensiva franco/americana democrata contra o Irã. E que a ofensiva era militarmente mais eficiente do que anglo saxã/republicana adotada contra o Iraque. Aí acordei e fui tomar banho, pensando “que sorte dos meus sonhos não serem premonitórios”.

  • O site do Capitão São Paulo ficou fora do ar por quatro dias. Problemas técnicos. Agora, não recebo os meus emails já faz quatro dias. Problemas técnicos. São Paulo ficou sem internet por um dia. Algumas pessoas, por uma semana. Por que caminhamos para o abismo alegremente? Por que entregamos tudo ao digital, mesmo sabendo que não podemos confiar nele? Nosso inconsciente já manifestou o pesadelo em obras primas pós-apocalípticas como “O Exterminador do futuro” (1 e 2. Eu não reconheço o resto) e Matrix (Vichhh!!!! Esse menos), com máquinas que se rebelam, nos dão um sopapo e tomam o poder. A minha máquina já se rebela. Isso quer dizer que o fim do mundo não deve estar muito longe, então? Segue o Computo.

Clique na imagem, para vê-la ampliada.
Computo 0.2



















  • Em uma semana de exibição, o novo filme do Batman arrecadou 221 milhões de paus. Tem gente espantada que filmes baseados em quadrinhos estejam fazendo tanto sucesso. Mas acontece que cinema e quadrinho têm tudo à ver. Diferente de quadrinho e desenho animado.

Alguns chamam desenho animado de história em quadrinho. Nota zero. O quadrinho está para o desenho animado tanto quanto o cinema está para a literatura. Assistam um filme dirigido por um escritor de livros para ver se não estou certo.

Os culpados dessa confusão entre quadrinho e animação são os americanos.
Que povo infernal, aquele. Só não vendem a mãe porque o protestantismo deve condenar. A melhor definição que já ouvi/li daquela sociedade foi de Tocqueville, que os definiu como uma raça de mercadores criando um país com um governo cuja
diretriz básica era a de não meter o bedelho nos negócios, deixando os homens de negócio negociarem em paz. Idéia sumpimpa, que, sem as devidas rédeas, se tornou o que se ve aí.

E um engravatado cabuloso, lá pelos anos 30, descobriu que se um personagem de uma tira de jornal tivesse uma versão em desenho animado, o jornal venderia mais. Desenho e animação foram unidos à força por um conceito de marketing. Os desenhos ajudariam a vender o jornal ajudaria a vender os desenhos. Idéia supimpa. Mas que é fichinha perto do que se vê hoje. Personagem de videogame virando desenho virando quadrinho virando
personagem de vídeo game. O personagem pode ser o mesmo, mas a forma de expressão é completamente diferente. Nêgo confunde anyway.

Há muito tempo os planos de enquadramento e narrativos dos quadrinhos vêm sendo imitados pelo cinema e vice versa.

Pra mim, o desenho animado da era clássica (1928-1960) tem tudo a ver com balé, isso sim. A música pontuando cada passo, cada expressão. E música clássica em peso, tirando alguns hereges que migraram para o Jazz. Aliás, tem um desenho ótimo, do Tex Avery, que mostra exatamente o ostracismo iminente a quem ousava preferir o profano Jazz à escola musical européia. I Love to Singa, de 1936.




A insânia de Avery já presente logo nos seus primeiros desenhos


  • Noutro dia ouvi “Sweet Dreams” , do Eurithmycs, na rádio. Cantei-a muito, ubriaco de Keep Cooler, nas festinhas do colégio. Mas cantava no “embromation”. Agora que entendi a letra, fiquei puto. “... já viajei os sete mares e uns gostam de abusar, outros, de serem abusados”. E me lembrei da Annie Lennox, a vocalista, que no clipe vestia terno e chicotinho. Em suma... passei a juventude promovendo o sadomasoquismo sem saber. Que papelão.

Adeus

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Sonhos à venda

E não é que deu Obama? E ele fica por aí dizendo que não teve nada a ver com a negrice. Lorota. Teve quase TUDO a ver com negrice. Ele é o primeiro candidato crioulo com chances de governar a América onde 12 por cento da população é negra e retribui o racismo dos brancos à altura, se não mais alto. Lá, entre essas duas patotas, tudo tem a ver com o grau de morenice. Só não sei de onde o Luis Ignácio e seus cabulosos companheiros tiraram a idéia de importar esse sistema para cá, via cota e afins. Melhor deixar pra lá...

Acresce os italianos, irlandeses, japoneses, chineses e etc., que sabem o que é ter sido tratado como cidadão de segunda classe. Logo, o time dos ressentidos é imenso e é natural torcer para que o cara que vem de baixo, o “underdog”, chegue lá. Essa energia é neutra, mas conforme for manipulada, gera desastre. A maioria dos cidadãos de bem do mundo simpatizou com o pequeno e tagarela Adolf, quando ele resolveu peitar sozinho a Inglaterra, que na época, despertava tanto ódio ao redor do mundo quanto os EUA hoje. E deu no que deu.

Não tenho opinião formada sobre o Obama. Não tenho visão de raios x para ver através de toda a marketagem, que manipula à perfeição as esperanças do gado e a transforma em promessa. Em ritmo de festa, claro.

De qualquer forma, me parece um bom rapaz, esse Obama. Mas eu acho que seria melhor pra ele se ele pedisse para pararem de compará-lo com John Kennedy e Martin Luther King , pois os dois foram assassinados. Se foi coincidência ou foi porque ambos queriam mudanças drásticas, que cada um julgue. Mas não queria vê-lo acabar assim, coincidência ou não. Me parece um bom rapaz, esse Obama.

QUASE tudo é morenice. Obama arrebata multidões também porque representa o sonho. O sonho é a força motriz e espinha dorsal da América. Aquilo que podemos vir a ser se trabalharmos duro. E vai dizer que não funciona. Eles vêm fazendo o impossível há mais de século. Há os efeitos colaterais, mas isso já é outra história.

O que não é outra história é que Gotham City representa a antítese do sonho americano. O mundo como ele jamais deveria ser. Ou seria o mundo como de fato é? Corrupução e degradação e falência de valores e perda da esperança? Gotham é a cidade do Batman, que aliás, estreou fim de semana passado. Não, ainda não vi. Mas quero assistir pra ver se aparece a bandeira.
Já a Metropolis do Super Homem essa sim, representa o sonho, a América que deu certo. Por isso, a bandeira tremula em tudo quanto é canto. Já em Gotham, nunca vi a bandeira.







Isso é um trabalho para o Super Barack...hmm, não. Homem Obama...não. Droga. Cadê meu marketeiro?


Quando o velhinho dono do Parque dos Dinossauros (Jurassic Park, Parque Jurássico, 1993) chamou a botânica, o paleontólogo e o matemático para lhes mostrar sua criação, eles acharam a idéia de clonar dinossauros estapafúrdia e o matemático (Dr. Ian Malcolm) provou por A+B através da teoria do caos que um certo modelo, acima de um grau de complexidade, produz resultados imprevisíveis. O velhinho ficou estarrecido, pois o único que achava o empreendimento uma boa idéia era o advogado. Afinal, o lucro não costuma medir as conseqüências.


Gotham, embora crível, só funciona na ficção. Afinal, está dentro dos EUA, onde as regras são rígidas e a maior parte da população, ordeira. Já São Paulo, se fosse fictícia, ninguém acreditaria que poderia existir no mundo real.

O Dr. Ian Malcolm devia vir aqui e equacionar o caos de São Paulo, desenvolver um modelo baseado nela, registrar a fórmula e sair vendendo pelo mundo. Dizem que o brasileiro é criativo e original. Complexos à parte, é mesmo. Tão original que conseguiu criar uma cidade que contraria o bom senso e a razão e continua funcionando. Como é possível que um lugar onde toda a gente desrespeitando tantas regras todo o tempo não entre em colapso? Furar farol vermelho (carro e transeunte), beber e dirigir, bar aberto a noite toda, enchente quando chove, distribuição de renda porca, crioulo, japonês, italiano, portuga e o escambau vivendo tudo junto sem tensão numa cidade do tamanho de um país. E basta subir no topo do Banespa olhar ao redor para se ter a incrível constatação; ela funciona. E funciona melhor do que a matemática, pelo menos euclidiana, sugere que deveria.

Por isso, essa nova lei seca divide minhas opiniões. Existem coisas além da discussão, lógico, pois com uma canetada, o número de feridos em acidentes de trânsito caiu 60%. Mesmo que os dados estejam alterados, que seja 30%, não dá pra questionar a eficácia da lei.

O que tenho dúvidas é sobre esse modelo de primeiro mundo sendo importado para cá. Nos EUA tudo funciona, mas eu acho chatérrimo. A maioria dos países da Europa têm um equilíbrio interessante. O Brasil não é nem um, nem outro. É o que é. E acho um ótimo lugar. Mas toda vez que o Brasil começa a querer emular as sociedade lá de cima,
acaba sendo ridículo. Aqui não existe nem o devido dinheiro, nem a cultura nem a vontade de trabalhar para virarmos América ou Europa. O que não nos impede de continuar tentando, falhando e criando abominações esquizofrênicas, como o Duas Caras, vilão do novo filme do Batman que nasceu de boa intenção, virou mal e parece nem uma coisa, nem outra. O mercado cultural é um bom exemplo. Criam-se leis de incentivo à cultura para os pequenos, mas são os maiores artistas do país, já devidamente endinheirados e dentro do aparato cultural, que usam o dinheiro do governo para promoverem seus mega shows. Ou os canais de TV, revistas e jornais, que quebram a cada sete anos e são resgatados da falência com a ajuda daqueles 50 por cento que o governo nos toma toda vez que colocamos a mão no bolso. Economia de mercado americana (o lucro vai para os donos da produção), com tributações de tamanho europeu, operando num sistema de intervenção estatal mais parecido com o chinês. O Brasil é mais esquizofrênico que o Duas Caras.










Duas Caras, o esquizofrênico; “Lego” é a sua avó. Eu sou um “Palymobil”!! Não, que mané “Palymobil”, sou um “Comandos em Ação”.


E vai embora. É tudo zuado. Desde as faculdades que não ensinam até as revoluções feminista, gay, indígena, negra, que aconteceram sem que ninguém atirasse uma pedra ou queimasse um sutiã sequer.

Vai ver é porque a gente somos muito original...

Não é o caos do Jurassic Park nem a desobediência civil de Gotham que nos ferra. É a falta do sonho. Precisamos de um sonho condizente com o que somos e com a nossa verdadeira idéia de bem estar, pois virar Europa... nós? Pfff. Mas nem em sonho.

adeus

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Jogue um filme e assista um videogame com Wall-e


















Daí que fui ver Wall-e. Novo filme da Pixar. Saí do cinema com as seguintes impressões;

-Os caras da Pixar são os maiores contadores de história contemporâneos.


-Somos a mais inconseqüente das espécies.


-Somos a mais safa das espécies.


Nosso “progresso” vai transformar esse planeta numa cratera fumegante. Quem tiver grana, como sempre, vai se safar. Seja morando em redomas que mantém todo o indesejável fora, seja mudando de planeta, que tecnicamente, pode ser adaptado à vida terrestre via terraformação. O resto que se exploda. Quanto mais mudamos, mais continuamos a mesma coisa.

Mas me pergunto se a parada não acaba antes. Através da venda da dignidade em horário nobre ou do vazio espiritual que consumo algum consegue preencher, apesar de todo o trólóló dos gurus da venda, que hoje, são tratados como semi-deuses. Sem contar o fator “dia escuro”. Quase ninguém leva esse fator em conta. É o mais assustador.

O fator dia escuro (eu que cunhei) é aquele pequeno detalhe que pode fazer a ordem social ceder. Algo besta acontece e o mundo acaba. Por exemplo. Suponhamos que a cada milhão de anos, a terra pare de girar um dia. Como estamos acostumados a ver o sol nascer toda manhã, nem pensamos no assunto. Amanhã ele não nasce e pronto. Nosso chão cede. Há o medo, o caos, o tumulto, a violência e o abismo. Duvido que a humanidade sobreviva a um dia sem Sol. Não por falta dele, mas pela perda de credibilidade em nossas crenças. Nosso equilíbrio depende daquilo com o que estamos acostumados. Quão de araque é o nosso equilíbrio.

Mas tenhamos fé. Nada vai acontecer e caminharemos tranquilamente para o fim do mundo através de consumo insaciável. Pelo menos tem alguém em algum lugar ficando mais rico...

E quem for ver Wall-e, poderá ver o clássico de uma era duzentos anos antes dele atingir essa condição. Há produções pop que já podem ser consideradas obras-primas, embora o mar de lama continue infindável.

“Uia, meu! O Wall-e parece o Jhonny 5” (aquele robô do filme Short Circuit, de 86) . Jay Shuster, o “character design” de Wall-e, falou que durante o processo de criação todo mundo repetia isso e perguntava se Jhonny o tinha inspirado. Ele disse que nunca nem viu o filme. Eu não sei... mas gerou grande controvérsia na comunidade nerd.
















Porca de um, parafuso do outro? Você decide

Jhonny5 era um tonto. Eu achava. Acho que as pessoas relacionam os dois mais por terem a mesma fórmula do que por serem robôs. Bom, ser robô ajuda, vai... mas os dois seguem a escola Steven Spielberg/E.T. de criação de personagens. O não humano que nos mostra o quão desumano somos. Nos humilha apenas com sua bondade e inocência. Por isso que milhões verteram ao cinema por E.T. e choraram. Mas a Pixar é mais classuda que Steven . Só bate acima da cintura.

E.T. foi um dos filmes mais vistos da história. Mas foi o maior fracasso comercial da história dos videogames. Hoje, é o oposto; a indústria de games fatura mais que Roliúde, mas os filmes inspirados em games costumam fazer feio.

E agora, vejam só. Não é que o Leonardo DiCaprio vai estrelar um filme sobre Nolan Bushnell!!!

Como é possível que uma alavanquinha e um botão nos inundasse com tamanho prazer?

Space Invaders era impossível, Keystone Keepers, enjoativo, River Raid, interminável. E Decathlon me deixou com bolhas na palma da mão direita, e depois, quando desafiado na canhota, na esquerda. E ainda assim, nada nos separava...

Bushnell pretendia, na verdade, unir as pessoas, criando algo que pudessem fazer juntas. Por isso criou Pong. E lhe atribuiu o sucesso ao fato de ser um jogo onde as mulheres eram mais hábeis que os homens. Disse que muita gente, até hoje, vem a ele para agradecer por ter conhecido seu cônjuge num bar, ao desafiá-lo(la) para um jogo de Pong.

Bushnell, não satisfeito com o sucesso do jogo nos bares, foi lá e criou o telejogo e depois, em 77, o Atari, levando de vez o fliperama para o lar e inventando a indústria de videogames. Indústria, que hoje, fatura mais do que a Roliúde onde o Leonardo trabalha. Fatura mais em arrecadação, lógico, pois acresce que Roliúde nos afoga ainda em dvds, mais os badulaques tipo bonés, canecas e o escambau. Sem contar o que ganham vendendo para TVs a cabo e aberta do primeiro ao sexto mundos. E o resultado é isso aí. Tom Cruise é bom ator e a Julia Roberts é símbolo sexual. Dá pra levar a sério? Seria Roliúde a maior tragédia cultural da nossa era? Alguém mais divaga?

E.T. virou jogo de videogame a toque de caixa, pois o sucesso do filme foi tão estrondoso quanto inesperado.

Mas às vezes, quando algo é muito, mas muito ruim, aí não tem jeito (Julia e Tom têm lá algum charme) e nem toda a popularidade do filme pôde mascarar a picaretagem do pior jogo da história e os cartuchos empacaram nas prateleiras e a crianças não queriam nem de graça e hoje milhares deles enchem uma vala monstro no deserto do Novo México. É talvez o maior fiasco da história dos videogames.

No Brasil era diferente. Nada entrava. Pelo menos não sem o devido atraso. O Atari chegou em 1983, via Polyvox. Mas o estrago que fez foi imenso. Perverteu toda uma geração. A minha. Por isso não nos provoquem. Temos polegares poderosos.

Em Pac Man, aquelas pastilhinhas podiam ser interpretados por Chokitos ou Kris, dada a resolução tosquíssima da época. E por isso a mulherada adorava. Era jogo de comer e elas imaginavam logo chocolate. Foi o jogo mais vendido da Atari de todos os tempos.

Era para se chamar Puc man, mas aí um executivo da Namco, a empresa que criou o jogo, ficou com receio que algum engraçadinho em algum fliperama riscasse a máquina com uma chave alterando a palavra “Puc” para “Fuc”, e que o nome pegasse. Imagine: Caro papai noel, quero um par de polainas, uma Fofolete e um cartucho do “Fuc man”. Papelão.




















Pac Man, depois que a terra comeu.



Propaganda da época em que o Atari foi lançado. Minha mãe teve que abrir um crediário no Mappin por causa disso.

Hoje, Wall-e, uma animação, é clássico. Nem sempre foi assim. A animação ficou relegada ao segundo escalão das artes por vinte anos até que Disney demonstrou seu potencial fazendo o impossível em “Branca de Neve”, em 1933. Demoraria mais uns 60 anos para que a animação se consolidasse como obra-prima. A bola da próxima vez são os videogames. Aposto que no futuro, quando assistirem Wall-e, dirão estarem vendo um clássico da era pré-videogueimiana. Aposto que no futuro, quando assistirem Wall-e, se lembrarão que nossa capacidade de fazer coisas belas vem de longa data, enquanto a cratera em volta, já fumegante, servirá para sempre como prova da nossa tosquice.


Adeus







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terça-feira, 8 de julho de 2008

Foi dada a largada

Me lembro que não sei por quê cargas d’água, queria porque queria que meu pai votasse no Franco Montoro para governador, em 82. Aliás, eu ficava puto quando alguém esboçava predileção por partido que não fosse o PMDB ( eu tinha sete anos mas ainda assim, melhor não tentar tirar conclusões). Apostei com ele que se o Franco ganhasse e eu fosse menino bom, ele me daria um Ferrorama da Estrela de Natal. Ganhou, cumpri, cumpriu.

Outra coisa que me ensandecia era quando alguém dizia que não torcia para o Dick Vigarista da Corrida Maluca e que era para eu deixar de ser besta porque ele nunca ia ganhar. Eu não me conformava que não houvesse um episódio no qual ele não ganhasse. Mentia. Dizia ter ido para os EUA onde assistira um episódio inédito nos trópicos, em que ele ganhava uma corrida na Bulgária. Tinha quem acreditasse, porque a negrice escondia o enrubescer. Mas a maioria sentia o cheiro da lorota.

Ontem, assisti à Corrida Maluca e lembrei das apostas que meu pai e eu costumávamos fazer no vencedor. Apostávamos balas Soft. (é. daquelas coloridas. Parece que proibiram depois que um moleque em Araçatuba se engasgou pra fazer graça).

Corrida Maluca e eleições às vezes têm intersecções. Ora porque uns candidatos são pessoas tão sérias quanto os corredores. Ora porque temos vontade de rir enquanto assistimos os eventos se desenrolarem. Ora porque é impossível ter certeza do vencedor. Dizem que a Marta leva. Não vejo como, se já perdeu a reeleição e se apóia na figura de um presidente que São Paulo, pelo menos, nunca elegeu. Alkmin é conhecido, mas Kassab fez uma administração boa e tem a máquina.

Uma diferença entre a Corrida Maluca e eleições é que na segunda, existe vitória relativa. O Luís Ignácio perdeu todas as eleições que concorreu até ganhar em 2002. Mas a cada eleição, saía fortalecido. As derrotas não eram absolutas. Já o Geraldo concorreu à presidência e teve menos votos no segundo turno que no primeiro. É como perder em dobro.

Sob tal prisma, acredito que a Soninha será a grande vitoriosa. Não me surpreenderia se ela se igualasse ao Maluf em votos. Seria uma grande vitória. E acho que ela merece, pois ela é uma das grandes vítimas da Democracia. Afinal, para tentar promover mudanças na sociedade, teve que organizar um comitê, entrar num partido, em suma, entrar no sistema, pois não há outro jeito. Para mim, esse é o aspecto mais totalitário da Democracia.

Chega de lero lero. Foi dada a largada:

Em primeiro, no carro número cinco, temos Marta Suplicy. De charmosa, não vejo nada, mas ela e a Penélope têm um ar de dondoca inegável. E mais, Penélope tinha uma alavanca no carro com várias funções. De secador de cabelo a batom. Passando por, pasmem, um vibrador. Sério. O carro da Penélope tinha um vibrador. Nunca a vi usando essa função, mas na inocência da infância, sempre me perguntei para que servia. Imagino que Marta não só saberia explicar facilmente como não veria problema nenhum em tal comportamento.










No carro 00 vem Geraldo Alkmin. Pensaram que seria o Maluf, não? Pois é, acontece que colocar as suas vontades à frente dos outros membros da equipe visando apenas o próprio bem é a principal característica do vilão. E nessas eleições Geraldo mostrou essa característica mais que qualquer outra. O Serra fica bem como Mutley, pois nunca sabemos de fato se ele está a favor, ou contra o Dick Vigarista, afinal ele dava aquele risinho sacana toda vez que o Dick quebrava a cara, embora se mostrasse um aparente ferrenho correligionário.










O Maluf pilota o Chugabum, o carro da Quadrilha de Morte. O estilo de vida do Maluf tem tudo a ver com a de um gangster em vários aspectos; ele não se acha mau, embora a maioria esteja convencida do contrário. Entra e sai da cadeia direto. Tem inúmeros processo que ninguém consegue provar e as autoridades sempre crescem o olho quando ele passa. Tem um dos carros menos aerodinâmicos, mas desistir, jamais.













Logo atrás da quadrilha de morte temos o carro cheio de truques do professor Aéreo, pilotado por Soninha Francine. O professor aparecia pouco, mas quando dava o ar da graça, sempre vinha com algo novo, que ninguém jamais havia visto. Queria ganhar a corrida por mérito próprio, sem criar problemas para os outros corredores. Transformava o carro num pula-pula ou simplesmente voava por cima de todos.



















E no carro tanque do exército vem o prefeito e seu secretário. Os dois impondo ordem à maneira militar. Com um poder de fogo que só a máquina pode prover. Não os mais populistas, talvez por isso, não os mais conhecidos, mas com um senso do dever de dar inveja ao Rambo.















Eu achei supimpa quando anunciaram que Mário Fofoca, o detetive trapalhão personagem da novela “Elas por Elas”, de 1982, teria sua própria série. Não só porque adorava o Mário (sem gracinhas), mas porque o conceito me parecia coisa de gênio. Pegar um personagem de uma novela e expandir o seu universo numa série só dele.

Isso já havia acontecido com Odorico Paraguaçu em “o Bem Amado”. Mas quem inventou o conceito, chamado Spin off, foram William Hanna e Joseph Barbera, quando tiraram Penélope e a Quadrilha de morte de “Corrida Maluca” (Wacky Races, 1968) e os meteram em “Os Apuros de Penélope” (The Perils of Penelope Pitstop, 1969), paródia de uma série de filmes de 1914 chamada “Os Apuros de Pauline” (The Perils of Pauline). Nessa série de 1914, aliás, que inventaram o tão famoso “o que acontecerá no próximo episódio...”, assim como foi a primeira a difundir o personagem da “donzela em apuros”.






















Os Apuros de Pauline, de 1914.


Dick Vigarista também ganhou série própria. “Máquinas voadoras” (Dastardly and Muttley in their flying machines, 1969)
E agora aguenta a Sony e a Warner fazendo Spin off de tudo quanto é série minimamente bem sucedida. Hanna-Barbera costumam ser malhados por terem assassinado a animação quando cortaram gente, custo e todo o possível para adaptar as outrora superproduções cinematográficas à nova e parca verba televisiva. É sacanagem chamá-los de assassinos. Digamos apenas que eles inauguraram o neoliberalismo econômico na TV. Êêêêêê Hanna-Barbera...


Abertura de Apuros de Penélope



Rê-rê-rê-rê-rê rê-rê! A Penélope vai morre, rê-rê-rê-rê-rê-rê.


Abertura de Máquinas Voadoras



Medalha, medalha, medalha!!!

Adeus

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um mutante na Guanabara ou: Será que Kurt se matou pra fazer graça?










Fim de semana passado tirei uma folga, porque embora ateu, também sou filho.

O Rio de Janeiro continua lindo. E ser paulista, lá, continua sendo handicap. Sempre tenho a sensação de que não me gostam, não me querem. Nada dizem, mas noto.

Sempre que estou no Rio, vou numa balada de samba que considero a melhor deste quadrante do universo. Como desta vez tive que ir de óculos escuros, adotei atitude involuntariamente blasé. O que dependendo do ângulo, da luz e sobretudo do sexo da pessoa que me contempla, pode ser interpretado como tipo “cool” ou afronta. Embora todo o sentimento de iminência, o sopapo nas fuças nunca veio. Provavelmente porque, seguindo conselho, me disfarcei de local, deixando a camisa pólo para fora da calça, ao invés do habitual dentro, da paulicéia. Se tivesse exercido o meu direito de ser quem sou, provavelmente teriam me esmurrado. Senti que queriam. Vários e várias vezes. Juro.

Algumas mulheres sempre querem saber o porquê. Por que você não me ama? Por que você usa de óculos escuros na balada, etc.
Respondi, da melhor maneira, que eu era um mutante cujo poder era emitir poderosas rajadas ópticas, só controláveis com o uso constante de óculos de quartzo. Quando faziam cara de “dããããããã”, levantava os óculos e ela podiam contemplar todo o poder destrutivo de uma conjuntivite viral em ambos os olhos.
“Ai, que aflição, põe de volta. Põe de volta.”
Quem disse que não era possível se divertir numa balada sem pegar ninguém?










Ciclope, dos X-men, e eu. O uso constante de óculos se faz necessário para conter a poderosa visão escarlate.


De volta à casa, posso dizer que prefiro o samba paulista ao carioca. O carioca (enredo, não partido alto e afins) tem toda aquela percussão que cansa depois dos primeiros seis minutos. Prefiro só cavaco, reco-reco e cuíca. E de preferência Elis ou Elisete cantando.

Mas Cartola é duca.

A música me faz perceber que estou envelhecendo. Meus ouvidos se tornaram mais sensíveis a alguns sons que a outros. Por exemplo, semana passada fui agraciado com um convite para ver um belo filme. Desses que gostamos mais depois que durante. Ainda o trago comigo enquanto escrevo. “Na natureza selvagem” (“Into the wild”). Dirigido por Sean Penn, com trilha sonora do Eddie Vedder, do Pearl Jam. Hoje, essas canções novas, só com violão, me apetecem mais que a quebradeira antiga, dos dois primeiros discos do Pearl Jam, que escutei à exaustão no começo dos 90. Menos e menos tenho tido paciência para música pesada. Na verdade, nunca fui graaaaande fã de rock pesado, mas meu grande amigo Freitas costumava me dizer que quando eu apodrecia, apodrecia de vez. E ontém apodreci. Para não acabar esbordoando verbalmente alguém a fim de descontar minha frustração por estar doente, ouvi Do the evolution, do Pearl Jam, no último volume. Me acalmei e não fiz papelão..
Depois ouvi de novo vendo o clipe, que foi dirigido por Todd Mcfarlane. Mcfarlane viou queridinho da mídia depois de vender 1 milhão de exemplares da revista do Homem Aranha, em 1991. Depois, saiu da Marvel e foi trabalhar por conta, criando o Spawn. Acho Spawn chatérrimo, o Homem Aranha dele, médio, mas o clipe... Ah, o clipe é lindo de morrer. A música também. E a letra.


Pearl Jam – Do the evolution




“...sou o primeiro mamífero a usar calças. Antes eu rastejava, agora eu ando. Isso é evolução, baby.” E repentes da nossa índole. Lindo.

Quando surgiram, as comparações entre Nirvana e Pearl Jam eram inevitáveis. Ambos no topo das paradas. Ambos da mesma cidade. Ambos integrantes de uma “cena” criada em laboratório e intitulada “Grunge”.
Com o tempo, Eddie Vedder e patota saíram da máquina de moer gente que é o show business americano e foram viver do que gostavam de fazer e faziam melhor. Tocar ao vivo. Nada de videoclipes, entrevistas na MTV, essas bobagens. E se estabeleceram como a maior banda americana sobrevivente dos anos 90. Eles e o R.E.M., eu diria.
Kurt, com um guitarra em punho, dava a sensação que poderia destruir o mundo. Talvez até pudesse, mas acabou destruindo a si próprio, com a ajuda das drogas, até o fatídico suicídio em 1994.

Kurt e Vedder me lembram o Batman e o Coringa em “A piada mortal”. O Coringa diz que a distancia entre um louco e uma pessoal normal é “um dia ruim”. Batman insiste que não é porque caímos que precisamos ficar no chão. Kurt e Vedder vieram de famílias desestruturadas. Longe de mim querer medir o nível de perrengue alheio, mas me parece que Kurt ficou no chão. Por incompetência, por escolha ou falta de . Ao passo que Vedder escreveu uma música dizendo que ainda estava vivo (Alive), numa época em que todos os seus sentidos diziam o contrário. Depois que veio o sucesso, as pessoas lhe tomaram “Alive” e começaram a usá-la como trilha sonora da celebração da vida. Ouvi em pessoa, no Pacaembú, em 2005. 40 mil almas cantando em uníssono. E mesmo avesso a esse tipo de coisa, entrei no coro. Deve ser verdade o que dizem das obras de arte serem netas de Deus. Elas têm esse poder de nos servirem de muletas caso prefiramos não ficar no chão. Eu as aproveito o tanto quanto posso, pois embora ateu, também sou filho.

adeus

L