domingo, 30 de novembro de 2008

Crise nas Infinitas Terras, ou: Citibankaput

Adoro cataclismas. Quando não é sob a minha cabeça, claro.


Uma tempestade, por exemplo... aquele vento, que às vezes faz o que nem o martelo consegue. E as toneladas de água caindo em meio a descargas elétricas de milhares de volts... É lindo de morrer. Lógico que o pessoal em Santa Catarina não pensa como eu. Que perrengue, aliás. Desejo-lhes toda força do mundo. E mantimentos.


Acontece que esse negócio de ver poesia no fim do mundo já me é antigo. Dei-me conta em 87, aos 12, quando caiu em minhas mãos “Crise nas Infinitas Terras”, uma história em quadrinhos, onde como o nome sugere, desgraça pouca é bobagem.


Mudar de casa é encaixotar coisas. Também é revirar coisas antigas e trazer lembranças à tona. Semana passada, mudei, encaixotei, revirei e lembrei. Achei um exemplar de “Crise”. O título me remeteu à atual Crise. E fitei a capa e folheei a revista por incontáveis minutos (é, eu devia estar encaixotando, mas sabe como é...) e às tantas, me pareceu que as duas Crises tinham mais a ver do que meus olhos me sugeriram originalmente.


No começo, lá pelo final dos anos trinta, havia o Super-Homem. Depois, o Batman. A molecada curtiu tanto a nova onda que aí vieram Mulher-Maravilha, Lanterna Verde, o Flash e o escambau, e o gênero dos super-heróis ganhou uma notoriedade monstro. Qualquer revista com um super-herói na capa vendia horrores, fosse a tosquice que fosse. E claro que várias editoras entraram na dança. E claro que um dia, tal qual no mundo das finanças, a bolha estourou e a festa acabou. E como só quando a maré baixa é que percebemos quem nadava pelado, os heróis “sem liquidez” sumiram, só ficando os com conteúdo, que se tornariam instituições sólidas. E eles estão aí até hoje, sendo reciclados a cada geração, fazendo a fortuna dos produtores de Roliúde.


Super Homem e a Liga da Justiça. Um investimento que, ao longo dos anos, rendeu mais do que muito banco.


Pois eis que às tantas, a DC Comics, que sobreviveu à crise, começou a comprar o papelório podre de outras editoras falidas e incorporar esses heróis à sua biblioteca. Mas faltou regulamentação no processo e os novos ativos, conforme adquiridos pouco a pouco, não foram administrados de maneira correta, criando prejuízo e bagunça. Um custo com o qual a geração seguinte teve que arcar.


O Capitão Marvel, por exemplo, comprado da Carlton comics, não participava de aventuras ao lado do Super Homem ou Batman porque o colocaram numa outra Terra. E mais herói foi chegando e mais Terras sendo criadas para esses heróis. Terra ativa, Terra Paralela, Terra-x, Terra-s, etc. As infinitas Terras. A bagunça foi tamanha que alguns anos mais tarde, nem editores, nem roteiristas, nem criadores ou fãs conseguiam explicar o que se passava. E os novos leitores boiavam grandão. As infinitas Terras entraram em Crise.


“Crise nas Infinitas Terras” veio para resolver esse problema de cronologia. É uma história de doze partes, com todas as centenas de personagens do universo DC envolvidos, talentosamente orquestrada por Marv Wolfman e George Perez. Vendeu horrores, graças a algumas fórmulas comumente usadas pelos arautos do liberalismo econômico.


Crise emprestou do liberalismo econômico quando usou de morte para promover a história. Nunca mais o universo dos quadrinhos foi o mesmo. Hoje em dia, quando se quer vender mais, mata-se, ou aleija-se, ou mutila-se um personagem. Emprestou do mercado financeiro porque se tornou um sistema onde nem as histórias, nem a arte nem a relação personagem/fã é levada em consideração. O negócio é lucro. Não me tirem de comunista. Pego muito bem com grana. Afinal, compra coisas confortáveis bonitas e gostosas. Mas grana é o meio, não o fim. Sempre que alguém vê grana como o único fim, há desastre. Sempre.


Super homem: Ó, Supermoça... ó Kara... por quê? Por quê? Será que não há outros meios de vender gibis sem matar? Será que o lucro sempre virá antes de tudo?


Como a vida imita a arte, o mercado financeiro pegou emprestado de Crise nas infinitas Terras. Uma criatura, movida pela sede de poder, desencadeia em cadeia uma reação que consome universo após universo, causando dor de cabeça praqueles mundos todos. Levando todo mundo a gastar todos os recursos disponíveis para conter a Crise. Na obra, Krona, na vida real, podia ser o Bob Rubin.


Rubin foi secretário do tesouro de Bill Clinton. Sabem aquelas regras rígidas pós- depressão de 29 sob as quais os bancos deviam operar? Pois é. Rubin foi um dos que ajudaram a afrouxá-las, permitindo que os bancos (Citibank incluso) saíssem do marasmo de meramente emprestar bufunfa e partissem pra lucrar com várias outras atividades financeiras.


Bob: A crise que o Krona desencadeou destruiu vários universos. A minha, só um. Que mixuruca que eu sou. Mas eu chego lá...


Antes de trabalhar no governo, Rubin ficou milionário como trader e executivo do Goldman Sachs. Depois de Washington, foi trabalhar no Citibank, persuadido por um tal de Sanford Weill. O Weill esteve entre os lobistas que persuadiram Washington a afrouxar as amarras que mantinha Wall Street sob controle. Como Krona, Rubin e patota conseguiram o que queriam, mas desencadearam uma Crise e agora, os outros que arquem com a conta. Nesse caso, os 75 mil funcionários do Citibank que vão perder o emprego, assim como os diretores e executivos do banco. A diferença é que nenhum dos 75 mil vai sair andando com 12 milhões de bônus.


E agora esse cara foi chamado pelo Barack para fazer parte da equipe de transição.


Gozado. Havia um outro personagem em Crise chamado Pária. Não tinha super poder. Tinha uma maldição, foi amaldiçoado a ser um observador passivo dos estragos que a Crise provocava enquanto arregaçava mundo após mundo. Coitado. Ele sempre era tragado para presenciar o desastre.


Não acho que Rubin seja o único responsável pela quebra do Citibank e outras instituições, mas acho que daria um bom bode, caso alguém estivesse interessado ou tivesse o poder de punir os responsáveis. De qualquer forma, mesmo sem maldição, parece que Rubin sempre é atraído para onde a Crise está. Ou talvez seja o contrário?


Me pergunto o que ele está fazendo num governo eleito para promover mudanças. Mas calma... é provável que Obama seja tão inteligente quanto parece. Talvez seja parte do plano...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Somos todos crioulos ou; das macaquices do governo‏

Há dez anos, numa incursão prolongada à escandinávia, eu bebia cerveja numa taverna. A loiraça que ali adentrou me viu e dirigiu-se à minha mesa. Atitude comum às fêmeas do longíquo norte. “Que Odin abençoe este continente, pois lá vamos nós de novo”, pensei. Mas nessa noite, algo saiu errado. Eis o que fez meus ouvidos sangrarem (em tradução livre); “Você é simpático e coisa e tal, mas é muito bonitinho. Eu gosto mesmo é de preto macaco”.

E todos formulam suas teorias sobre a vitória do Barack, ou se desculpam pelas apostas não vingadas, mas só uma coisa é certa; O Barack ganhou porque é bonitinho e charmosão. Se fosse preto macaco, não ganhava. A garota dinamarquesa não é o padrão. Aliás, tive que ir até o fim do mundo, literalmente, para encontrá-la. O padrão é todo o resto, com mães, tias e avós apolíticas inclusas. O importante hoje é o bonito e o jovem. Queria ver se estariam dispostas a expressar tamanha simpatia caso o candidato fosse o Mugabe, o atual presidente do Zimbábue.


Banho de loja o cacete! Que mané micromarketing o quê! Tá me tirando? Se quiser votar em mim, é assim. Se não quiser também, dane-se. Vou continuar presidente pelos próximos 30 anos de qualquer jeito mesmo.


E vamo que vamo. A cada década vão nos dizendo do que gostar, o que descartar. Nos últimos dez anos, fumar virou feio e ser preto virou legal/bonito. Eu é que não estou reclamando, mas não dá pra levar a sério. Sobretudo quando me lembro de quão dura a vida costumava ser. Me lembro do que era ser negro, em criança, antes do politicamente correto atingir o horário nobre. Não era fácil brincar de super-herói. O meu favorito era o Batman. Quando eu o escolhia, vinha uma voz; “Não! O Batman não é neguinho!!” e lá ia eu, podendo optar apenas entre o Homem Borracha ou o Vulcão Negro, dos Superamigos. Um mais banana que o outro...


Homem-Borracha: Um obscuro super-herói de uma obscura série produzida por um estúdio não menos. Uma, das duas únicas opções para os neguinhos da década de 80.

O politicamente correto se alastrou pela mídia americana como uma praga, se instalou e lá está até hoje, aparentemente irremovível. Mulheres, judeus, pretos, japas, bichas... todos viraram intocáveis.


Na década de 70, os estúdios Hanna-Barbera adaptaram os quadrinhos da Liga da Justiça em desenho animado. No meio do caminho, encontraram o politicamente correto e aí zuou. Tiveram que criar alguns personagens extras, que não existiam nos quadrinhos, para que crianças de outras etnias não se sentissem excluídas. Um japa, um chicano, um crioulo e um indião. Eu já achei supimpa. Hoje, me parece o pessoal do Village People.


Enquanto isso, na Sala da Justiça: “Vejam nossas roupitchas, gentém... Não percebem que representamos uma outra minoria também? Ai, bafôn total!!!”


Enquanto isso, na amada idolatrada salve salve, entre uma propaganda de Vitassay aqui e uma negação de paternidade ali, o Pelé me lança: “No Brasil não existe racismo”. E lhe caíram sobre a cabeça. E o que é pior. Ele estava certo.


Tirando os gaúchos, que parecem odiar todo o resto, independente da cor da cútis inclusive, somos completamente inúteis como racistas. Primeiro que já misturamos além do que qualquer branco racista europeu consideraria ser o grau permissível de morenice. Além, somos preguiçosos demais e/ou cordiais demais e/ou optamos pelo “deixar como esta para ver como fica”. É impossível imaginar uma galera com facas, tochas e grilhões, marchando avenida paulista abaixo, gritando em coro; Matem os mamelucos!!!


Nos EUA, negros e brancos fumam cigarros diferentes, comem comidas diferentes, ouvem música diferente e falam diferente. Italianos, Irlandeses e Asiáticos têm filhos e netos que continuam sendo italianos, irlandeses, etc. No Canadá, eu era aceito no bar Croata por causa do meu sobrenome, mas minha amiga branca saxã local, não, porque pertencia a outro povo. Os escandinavos estão lá há várias centenas de anos sozinhos, isolados, sem mistura, logo, são todos iguais. Qualquer forasteiro é olhado e tratado diferente. Para o bem ou para o mal. O Japão, idem. A Europa continental sempre foi muito mais pluralista do que costumamos imaginar, relegando as maiores tretas a diferenças religiosas. Assim como o resto do mundo, que se mata por diferença ideológica. E os Bálcãs e a África, com suas limpezas étnicas; o primeiro sem que qualquer crioulo esteja envolvido, o segundo, onde todo mundo é negão matando negão.


E o Luís Ignácio veio que veio. Na ânsia de inserir o Brasil no mundo, ele e seus cabulosos companheiros reduziram “racismo” a conceito de novela das oito e criaram um ministério pra integrar os negros e um sistema de cotas. E até hoje são incapazes de definir a cor do porteiro do palácio da Alvorada. O Brasil é uma bagunça genética. Criar um Brasil dividido em raças é criar um Brasil racista. Importar o racismo... De todas as macaquices do governo, essa foi a máster.


Bom dia da consciência negra a todos. O que diabos quer que seja o significado dessa data.



quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Só Jesus salva, ou; Oh, você é meu herói!


Encontro o Herbert no metrô com o meu Sêneca favorito a tira colo. Às tantas, ele me pergunta; como pode dar tanta importância a super heróis gostando tanto de filosofia? Eu respondo que é exatamente por gostar de filosofia que levo tanto os super heróis a sério. Ele franze a testa. Hmm... ainda faltam seis estações. Acho que dá tempo.


O negócio é a representação. Gosto de como cada super herói representa uma característica humana. Heróis são gente capaz de atos que inspiram seus contemporâneos. Sejam de papel, sejam de carne e sangue, pois no campo das interpretações, não há diferença entre Ayrton Senna ou Speed Racer. Péle ou Super Homem. Pois todos são capazes de nos deixar boquiabertos com seus atos e nos inspirar a continuar em frente mesmo quando tudo parece perdido. Afinal, não afinam quando a coisa engrossa.


Ah, então você curte os de carne e osso também?


Dããããã. Claro. Não só pessoas que me inspiraram com seus atos, mas que também me consolaram com suas artes.


Tipo quem?


Tipo o pessoal do Jesus And Mary Chain.


Jesus And Mary Quem?


Chain! Mary Chain!. É uma banda. São dois irmãos. Aliás, os conheci final de semana passado, quando aportaram para um show no festival Planeta Terra aqui em São Paulo. Estive com eles da chegada à partida. Quão demasiadamente humanos são meus heróis. Tão humanos quanto qualquer outro humano que conheci. Mas enquanto subiam ao palco, me lembrei da imagem dos Deuses voltando ao Olimpo. E uma vez lá cima, tudo ficou claro de novo. Afinal, o super herói só vira super depois que deixa sua identidade secreta pra trás.


Quando adolescente, eu tinha certeza que aqueles dois saíram das garagens frias escocesas com suas guitarras matadoras e letras apocalípticas só para me lembrar que eu não estava sozinho. Várias vezes suas músicas eram tudo que eu tinha quando tudo mais era amargo. Comigo foi Jesus, com você, sei lá. O Corinthians...


Mas eu sou palmeirense...


Whatever...


The Jesus And mary Chain: Happy When it Rains


Saímos do aeroporto de Guarulhos sob chuva torrencial.Fiquei feliz quando choveu.


Putz. Pod’s crê. Pod’s crê. Faz sentido essa parada aí de herói. Pra mim, cê tá ligado que o verdão pra mim é tudo, né? Então... cê lembra do Mirandinha?


Não. Esqueci.


Pois aquele cara que me ensinou a não ter medo de entrar em dividida. E eu levei isso pra vida. Igual o Batman deve ter te ensinado a não ter medo da vida.


Quem me inspirou a não ter medo da vida foi o Demolidor, o homem sem medo. O Batman é o meu favorito porque é solitário, assim como os irmãos Reid, que embora dois, sempre me sugeriram habitar um mundo vazio.


E a mulherada?


Ah, não tô pegando ninguém não...


Não! Tô falando de heroínas. Cê não curte, tipo, a Mulher Maravilha?


Hm. Sempre peguei mal com heroínas. Sempre imaginei que se a Mulher Maravilha fosse real, pareceria a Miss Maromba 2008. E eu nunca gostei de mulheres vitaminadas. Pra mim, força bruta é coisa de homem.


Meio viagem ficar pensando como os heróis seriam na realidade, hein, Lovriquí...?


Tsc. Tem nêgo mais doente do que eu. Tem um artista, o Alex Ross, que usou os super heróis para superar as dificuldades da infância e adolescência. Cresceu, se apaixonou por Michelangelo e hoje representa os seus heróis favoritos de maneira ultra realista.


Que dia! Tô só o pó. Duas entrevistas, uma matéria, salvar um avião caindo e lutar contra o Brainiac...tudo isso antes do café da manhã. Êpa! O Que é aquilo? Uma mancha de Toddynho no carpete? Droga! Meu trabalho nunca acaba.


E cê não curte, tipo, as meninas superpoderosas?


Adoro, mas elas são outros quinhentos. Elas habitam um universo onde nada pode ser levado à sério. Adoro aquelas meninas porque brincam quando têm que brincar, mas na hora de sentar o braço, meu Deus do céu. Mas eu tenho trinta e tralálá. Elas devem servir de inspiração para as meninas de hoje. Quando eu era criança, assistia Thundercats e o ouvia o lema “Justiça, verdade, honra e lealdade”, que prego até hoje. Mas a violência não era tão explícita. Por isso me incomoda um pouco que as meninas de hoje pirem tanto nas Meninas. O mundo mudou.


Pra pior?


Se quer um monumento, olhe ao redor...


Um jovem ouvia um som cacofônico qualquer saído do seu celular (já não inventaram os fones?) e a maioria olhava hipnotizada a tevezinha com suas mensagens subliminares. E meu pai, que me ensinou que nossos olhos e ouvidos eram livres. Aquele mentiroso...


Vocês ainda não viram nada. Um dia, sofreremos de TPM.


Então nunca gostou de super heroínas?


Gostava só da Ravena, dos Jovens Titãs. Aquilo sim, era mulher. Absorvia a dor dos outros e as fazia suas. Depois liberava a dor pro espaço, mas até então, sofria. Sempre triste, por hábito e por medo de sentir fortes emoções, porque seu lado negro poderia se libertar. Até que se libertou em algumas edições, mas nunca me sugeriu ser algo que um bom cafuné não pudesse resolver. Se fosse pra eu casar com alguma heroína, casaria com a Ravena.


Os Jovens Titãs na nova versão em desenho da Cartoon Netwrok. Hoje, a Ravena sorri. A garota evoluiu. Parabéns.


Valeu, Lovriquí!


Segura a onda, man!


E dedico o post de hoje como sinal de gratidão a um grande amigo. Sua mãe o chama de filho, sua esposa, de babe. Os ecos do passado, de Dias. Seus irmãos, de Dã. Seus fãs, de Cozta. Inimigos, não o chamam, pois nem sequer os tem. Pra mim, “Juma” basta. Valeu, bro.


Logo mais tem mais


Até


ps. Seguem alguns links para o trabalho de Alex Ross, caso interesse...

Papéis de parede

Galeria de heróis DC

Homem Aranha

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O cometa (Halley) Obama ou; sonhos e erros‏

Um grande desafio, eu já superei. Agora só faltam mais uns setenta.


E o Obama ganhou, como eu não disse que ganharia.


Nada me chateia mais do que constatar que estou errado. Só pagar impostos. Mas como as duas coisas são verdades absolutas na vida, pelo menos na minha, o negócio é continuar em marcha.


Mas isso não foi nada, se comparado ao que me aconteceu em 1986, o ano do Grande Erro.


Durante a passagem do cometa Halley, fundei uma equipe de lobby mirim para que todas as luzes de todos os apartamentos se apagassem durante uma hora, a fim de visualizar o evento em todo o seu esplendor. O motivo me parecia nobre. A retórica, perfeita; “Se a gente não vir agora, só daqui a 76 anos”. E me parecia natural, fazer tal papelão de porta em porta, já que, quando o cometa riscasse o firmamento com sua resplandecência de mil sóis, todos me ovacionariam e me cobririam de glórias.


Depois de árdua campanha conseguimos que não só nosso prédio apagasse todas as luzes, mas que também os prédios vizinhos.


Fiquei totalmente desmoralizado por causa daquele cometa cretino, ou melhor, por causa de sua quase que total ausência. Levei anos para recuperar a confiança dos moradores, da então síndica Dona Anita que Deus a tenha, e dos meus correligionários.


No céu de onde eu vi, foi muito mais mixuruca.


Mas o maior efeito que a (não) passagem do Halley teve em mim foi o ceticismo adquirido em relação a tudo que a TV me dizia. Lembrando que isso não só dura até hoje, como vem se agravando durante os anos.


A Estrela lançou o Halleyfante em 86. O design misturava cometa, elefante e bola de capotão. Era um milagre tecnológico, pois andava pra lá e pra cá e balbuciava mensagens de paz interestelar. E, claro, custava os tubos.


No final de 1985, a Globo montou o “Projeto Halley” a fim faturar em cima do cometa. Foi aquele terrorismo habitual; Especial de TV musical, reportagens no Fantástico, história em quadrinhos da família Halley, álbum de figurinhas e a cereja do bolo; o Halleyfante, um dos brinquedos mais vendidos no natal de 86. Altamente promovido por dois dos mais insidiosos agentes da máquina do mal de então; Fofão e Simony.


Simony: Nosso plano de empurrar a Família Halley goela abaixo de todo mundo funcionou direitinho.

Fofão: Sim. O próximo passo é inserir minhas músicas subliminares no comercial das sopinhas Knorr e assinar um contrato com a Dizzioli para vender chocolates péssimos.


A primeira razão pela qual achei que Obama perderia é porque foi a mídia que disse que ele ganharia. E a mídia, seja sobre Halley, seja sobre eleição, distorce, mente e manipula quase que o tempo inteiro. Nas eleições daqui, a dona Marta perdeu no primeiro turno por um ponto de diferença e todos se calaram sobre onde teriam ido parar os outros sete que algumas mídias juravam que ela tinha. Nos EUA, havia sido a mesma coisa nas reeleições de Bush e Reagan.


A segunda razão; É que os EUA são fundamentalmente racistas e econômicos liberais e Obama é crioulo e socialista.


Bom, daí que fui dormir pensando nisso. E sonhei.


Sonhei que dava uma psicografada de leve…. Primeiro, o Jânio, que me dizia para contar pro Obama que as mesmas “forças terríveis” que o afastaram do poder, ainda estão à solta , e que em caso de batida de frente com o sistema, nem mesmo uma eleição por maioria esmagadora pode impedir que venha a se tomar um toco. E Depois vinha o Jhon. É aquele tal de Kennedy. Dizendo que na época dele, fantasias socialistas demais em país econômico liberal, costumavam terminar numa bala na cabeça durante passeio em carro sem capota, mas que achava que talvez hoje, fosse possível que as coisas estivessem diferentes. Possível, não provável.


E o Collor disse que nada de quebrar monopólios nem ir contra quem o elegeu. Senão, te dão um piáu.


E eu: ― Peraí, Collor. Ce não tá morto, cara.


E ele: ― Não?


Pensei bem e resolvi não responder, por não estar mais já tão convencido.


Acordei com a certeza de que independentemente dos percalços e perigos, Obama tem condição de começar a liderar as pessoas na direção que elas desejam, pois parece ser um grande líder. E foi por isso que uma maioria de gente, que não vota habitualmente, foi às urnas elegê-lo. Porque querem mudanças mais do que se importam com o racismo ou com liberalismo econômico. E por estarem cheios das patetadas e calúnias dos republicanos. Olha a nova geração chegando ao poder aí, gente!!!


E em tempo... às vezes, fico feliz por estar errado. Essa foi uma. Go Obama Go. A torcida está fazendo bem a parte dela. Resta continuar fazendo bem a sua. E sorte...


Adeus