segunda-feira, 2 de junho de 2008

Eram os Deuses Racistas ou: Cartoon Network encontra Josef Stálin


Virgil Ross, Sid Sutherland, Tex Avery, Chuck Jones, Bob Clampett. 1935.

Oi

Houve um período em que as nações do eixo do bem guerreavam entre si. Até que chegaram à conclusão que era melhor todo mundo ficar amigo e mandar no resto. Mas até decidirem isso em Versailles, jogavam bomba uns nos outros. Uns mais do que outros. Mais em uns do que em outros. Mas que jogavam, jogavam. Fazia Bum e tudo. Era uma festa.

Mas bomba é coisa de soldado e marinheiro. Já manter a moral deles elevada é coisa de cartunista e diretor de desenhos animados. Pelo menos foi, durante a segunda guerra mundial, quando o departamento de defesa americano incumbiu os grandes estúdios de Roliúde a alistarem seus personagens para servirem o Tio Sam. Disney, Warner, MGM, Columbia, Fleischer. Foi uma festa.

Houve um período em que se amarrava gente no pelourinho e lhes davam chibatadas. Depois verificou-se que embora fosse bom negócio fazer a galera trabalhar de sol a sol sem receber um vintém, seria ainda mais rentável se tivessem a própria grana para comprarem as bugigangas que lhes enfiassem goela abaixo. Sem contar que os adeptos do humanismo, fosse via Cristo ou revolução francesa, parariam de encher os pacová dos donos da produção. Então fez-se a abolição. E os libertos fizeram aquela festa, pois não sabiam nem do preconceito, nem do perrengue que teriam que enfrentar antes de virarem cidadãos de primeira classe.

Há trocentas interpretações para ambos os eventos históricos. Vários válidos. Alguns menos. Mas fingir que eles não aconteceram é leviano. Tentar esconder, é criminoso.

Os Bolcheviques russos dizem ter derrubado o regime. Balela. Quando o regime caiu de maduro, eles estavam lá e remontaram os pedaços. A história ensina que pode-se fazer de tudo com um povo, menos deixar faltar pão. Faltou pão, ferrou. O Czar Nicolau II, tal qual Luis XVI, deixou faltar pão e tomou uma revolução nas fuças. Taí. Só assim faremos a nossa. Quando não sobrar mais dinheiro para comprar Wickibold no Pão de Açúcar.

Mas isso é outra história. O que não é, é que quando os bolcheviques "tomaram o poder" Totsky chegou para Lênin e disse: “ô, Vladimir, não é melhor deixar esse negócio de pena morte pra lá? Isso é coisa de czarista, meu”. E o Vladimir; “ah, e você já viu fazer revolução sem matar gente? Parece que bebe...” e continuaram matando. Mas perto do que viria a ser o Stalin, eram fichinha.

Além de baixaréu pós graduado em mandar matar aos montes, Stalin também era capaz do blefe e da mentira. Aliás, ele era tão mentiroso, mas tão mentiroso, que inventou o Photoshop antes do primeiro computador vir a existir. Assim, depois do derrame de Lênin e da expulsão de Trotsky do país (seguido de seu assassinato), o bigodón pôde reescrever a história apagando os seus ex-chapas, assim como muitos outros, das fotografias. Nem o Lex Luthor seria tão ardiloso.


Cadê o camarada que tava aquiiii.....?


Mas agora tenho duas perguntas.

1) É possível que os maiores diretores de desenho animado de todos os tempos tenham sido patifes racistas e preconceituosos por retratarem alemães, japoneses e negros como estereótipos que representavam o ideário popular de sua época?

e 2) O quanto o ato de proibir, censurar e mutilar esses desenhos se assemelha à tentativa de Stalin de "melhorar" (segundo o próprio) a história?

É incrível como os EUA pode atingir extremos. Como a maior democracia da terra pode, às vezes, seguir a cartilha de um dos governos mais facistas e anti-humanistas da história da humanidade?

Pois é...É o que a Cartoon Network faz. Assim como as grandes redes abertas americanas. "Editam" partes de desenhos por acharem ofensivo para os seus telespectadores. Eu entendo que alguns desenhos não devam ser mostrados para crianças, assim como alguns filmes, músicas, livros, etc. porque foram feitos para adultos (Avery admitiu nunca ter feito desenhos pensando em crianças).

Acontece que já tem horários especiais para desenhos que mostram fornicação, bebedeira e cheiração. Por que não colocar esse desenhos nesses horários? Por que não comercializar esses desenhos em DVD com aviso especial, sei lá, algo do tipo “Conteúdo adulto” ou "Atenção!!! Pode ser ofensivo a moralistas filistinos". Seriam soluções. Mas banir? Mutilar? Ah, tenha a santa paciência...

Mas o anarquismo cultural se fez possível e veio a luz. É. Estão (quase) todos na internet. Mas veja rápido, pois os soldados da moralidade se aliaram aos capangas de gravata dos estúdios e estão tirando tudo do ar.

Um maluco de carteirinha disponibilizou todos para download. Louvado seja.

Clique aqui

E aqui segue uma lista dos meus favoritos disponíveis no you tube seguido de um pequeno comentário.

The Magical Maestro



Obra prima do mestre Tex Avery. Detona os negros, os chineses, os havaianos, os caipiras. E eles devem ter curtido. Quem não curtiria?

Curiosidade: Esse desenho é da “Era teatral” quando as animações eram exibidas nos cinemas, antes dos filmes. Às vezes, um fio de cabelo entrava no projetor e ficava dançando na tela. Avery, como não perdia uma piada, achou um solução hilária para o problema. Feito para a MGM, em 1952.

Coal Black and the Sebben dwarfs



Paródia de Branca de neve (Snow White and the seven dwarves) em versão crioula. Snow White, Branca de neve. Coal black, Preta de Carvão. Sacaram?

Dirigido por Bob Clampett em 1943, para a Warner. Não era humano esse Clampett. Não é possível...

The Blitz Wolf




Outro Avery. Paródia dos três porquinhos. O lobo, Adolf Wolf, quebra o pacto de não agressão feito com o porquinhos. Como Hitler quebrou o que fez com Stálin. Feito para a MGM, em 1942.

Der Fuerher’s face

Walt Disney pictures. Dirigido por Jack Kinney em 1943. Impecável e divertido, ao invés de anárquico e cascante. Um Disney típico.

Adeus




3 comentários:

Anônimo disse...

e mais - auto-censura. O Spielberg tirou as armas das mãos do policiais que perseguem o ET na bicilceta, e substituiu por cacetetes, e o cretino do Jorge Lucas apenas disponibilizou em DVDs as versões "revisadas" com
cacarecos 3D dos três primeiros episódios. As versões orginais foram deletadas.

Claro, não há política nenhuma nesses casos, e as consequências disso são bem menores, mas é também um jeito de reescrever a história. Deve ser um modus operandi deles.

Rodrigo Soldado disse...

a relação diretor de estúdio-governo se vê por aqui. O Mauricio de Sousa está sempre dando um jeito de enfiar sua turma nos programas do governo.

Anônimo disse...

Muito bom este seu blog!