terça-feira, 1 de julho de 2008

Um mutante na Guanabara ou: Será que Kurt se matou pra fazer graça?










Fim de semana passado tirei uma folga, porque embora ateu, também sou filho.

O Rio de Janeiro continua lindo. E ser paulista, lá, continua sendo handicap. Sempre tenho a sensação de que não me gostam, não me querem. Nada dizem, mas noto.

Sempre que estou no Rio, vou numa balada de samba que considero a melhor deste quadrante do universo. Como desta vez tive que ir de óculos escuros, adotei atitude involuntariamente blasé. O que dependendo do ângulo, da luz e sobretudo do sexo da pessoa que me contempla, pode ser interpretado como tipo “cool” ou afronta. Embora todo o sentimento de iminência, o sopapo nas fuças nunca veio. Provavelmente porque, seguindo conselho, me disfarcei de local, deixando a camisa pólo para fora da calça, ao invés do habitual dentro, da paulicéia. Se tivesse exercido o meu direito de ser quem sou, provavelmente teriam me esmurrado. Senti que queriam. Vários e várias vezes. Juro.

Algumas mulheres sempre querem saber o porquê. Por que você não me ama? Por que você usa de óculos escuros na balada, etc.
Respondi, da melhor maneira, que eu era um mutante cujo poder era emitir poderosas rajadas ópticas, só controláveis com o uso constante de óculos de quartzo. Quando faziam cara de “dããããããã”, levantava os óculos e ela podiam contemplar todo o poder destrutivo de uma conjuntivite viral em ambos os olhos.
“Ai, que aflição, põe de volta. Põe de volta.”
Quem disse que não era possível se divertir numa balada sem pegar ninguém?










Ciclope, dos X-men, e eu. O uso constante de óculos se faz necessário para conter a poderosa visão escarlate.


De volta à casa, posso dizer que prefiro o samba paulista ao carioca. O carioca (enredo, não partido alto e afins) tem toda aquela percussão que cansa depois dos primeiros seis minutos. Prefiro só cavaco, reco-reco e cuíca. E de preferência Elis ou Elisete cantando.

Mas Cartola é duca.

A música me faz perceber que estou envelhecendo. Meus ouvidos se tornaram mais sensíveis a alguns sons que a outros. Por exemplo, semana passada fui agraciado com um convite para ver um belo filme. Desses que gostamos mais depois que durante. Ainda o trago comigo enquanto escrevo. “Na natureza selvagem” (“Into the wild”). Dirigido por Sean Penn, com trilha sonora do Eddie Vedder, do Pearl Jam. Hoje, essas canções novas, só com violão, me apetecem mais que a quebradeira antiga, dos dois primeiros discos do Pearl Jam, que escutei à exaustão no começo dos 90. Menos e menos tenho tido paciência para música pesada. Na verdade, nunca fui graaaaande fã de rock pesado, mas meu grande amigo Freitas costumava me dizer que quando eu apodrecia, apodrecia de vez. E ontém apodreci. Para não acabar esbordoando verbalmente alguém a fim de descontar minha frustração por estar doente, ouvi Do the evolution, do Pearl Jam, no último volume. Me acalmei e não fiz papelão..
Depois ouvi de novo vendo o clipe, que foi dirigido por Todd Mcfarlane. Mcfarlane viou queridinho da mídia depois de vender 1 milhão de exemplares da revista do Homem Aranha, em 1991. Depois, saiu da Marvel e foi trabalhar por conta, criando o Spawn. Acho Spawn chatérrimo, o Homem Aranha dele, médio, mas o clipe... Ah, o clipe é lindo de morrer. A música também. E a letra.


Pearl Jam – Do the evolution




“...sou o primeiro mamífero a usar calças. Antes eu rastejava, agora eu ando. Isso é evolução, baby.” E repentes da nossa índole. Lindo.

Quando surgiram, as comparações entre Nirvana e Pearl Jam eram inevitáveis. Ambos no topo das paradas. Ambos da mesma cidade. Ambos integrantes de uma “cena” criada em laboratório e intitulada “Grunge”.
Com o tempo, Eddie Vedder e patota saíram da máquina de moer gente que é o show business americano e foram viver do que gostavam de fazer e faziam melhor. Tocar ao vivo. Nada de videoclipes, entrevistas na MTV, essas bobagens. E se estabeleceram como a maior banda americana sobrevivente dos anos 90. Eles e o R.E.M., eu diria.
Kurt, com um guitarra em punho, dava a sensação que poderia destruir o mundo. Talvez até pudesse, mas acabou destruindo a si próprio, com a ajuda das drogas, até o fatídico suicídio em 1994.

Kurt e Vedder me lembram o Batman e o Coringa em “A piada mortal”. O Coringa diz que a distancia entre um louco e uma pessoal normal é “um dia ruim”. Batman insiste que não é porque caímos que precisamos ficar no chão. Kurt e Vedder vieram de famílias desestruturadas. Longe de mim querer medir o nível de perrengue alheio, mas me parece que Kurt ficou no chão. Por incompetência, por escolha ou falta de . Ao passo que Vedder escreveu uma música dizendo que ainda estava vivo (Alive), numa época em que todos os seus sentidos diziam o contrário. Depois que veio o sucesso, as pessoas lhe tomaram “Alive” e começaram a usá-la como trilha sonora da celebração da vida. Ouvi em pessoa, no Pacaembú, em 2005. 40 mil almas cantando em uníssono. E mesmo avesso a esse tipo de coisa, entrei no coro. Deve ser verdade o que dizem das obras de arte serem netas de Deus. Elas têm esse poder de nos servirem de muletas caso prefiramos não ficar no chão. Eu as aproveito o tanto quanto posso, pois embora ateu, também sou filho.

adeus

L



3 comentários:

Anônimo disse...

Eu tb tive essa impressão ao ver o filme. Durante...fiquei pensando pq ele escolheu um caminho tão dificil pra descobrir que é melhor não viver sozinho. Depois ouvindo a trilha sem parar rsrsrs, o filme não me saía da cabeça!
Faz um tempão que tá no cine bombril...acho que vou ver novamente!

Ana disse...

Poxa, me leva contigo na próxima vez em que for ao Rio? (Só um detalhe, o Andreas pode até confirmar: o Nirvana não era de Seattle, era de Aberdeen, uma cidade pequenininha também ali em Washington.)

andré spera disse...

"do the evolution" é umas das melhores e mais violentas músicas do pearl jam - e nem é do "auge" do começo do anos 90, não? os timbres e a dinâmica da música também me lembram a ótima World Wide Suicide, do ultimo album deles no estudio. é o incrível poder das telecasters...