quarta-feira, 3 de setembro de 2008

USA, nove às seis ou; minha cabeça dói

Noite passada, dormi e sonhei, como quase sempre faço, a contragosto. E como quase sempre, entendi bulhufas quando acordei. Sonhei que eu estava numa caverna, e que três filisteus que haviam subido a montanha e me tratavam de oráculo me faziam perguntas ora esdrúxulas, ora mezzo pertinentes. Aleluia que acordei só me lembrando das mezzo. Seguem trechos de nossa conversa (algumas partes eu tive que reconstituir, pois as lembranças me são nebulosas)

Lovric, o que você espera da vida?

-Nada, ué. Tô aqui tirando onda enquanto o trem não chega. Vejo a morte como o final dos desenhos da Warner. "That's all folks", sem a musiquinha. Mas espero que no meu enterro toquem. Até lá, farei o que puder onde estiver com o que tiver, ou nas palavras de Voltaire, em Cândido, cultivarei o meu jardim. Hmm. Lógico que se puder contratar um jardineiro, melhor.





















A morte deve ser assim. Um dia estamos aqui e no outro, kapult!
E isso é tudo, pessoal.

Lovric, qual o problema do liberalismo econômico em países em desenvolvimento ser uma piada? Você não adora piadas?

-Sim. Mas só as de bom gosto.

E com relação ao filme novo do Batman? Por que você acha que todo mundo achou tão bom? Mesmo quem não gosta de quadrinhos...

Esse negócio aí, viu ô Leonel, (pior é que me lembro do nome, mas nunca conheci nenhum Leonel na vida) é porque a cultura pop está no auge. As gerações que nasceram a partir da segunda metade da década de 50 foram soterradas por cultura pop. Agora, as vítimas recontam as histórias.

Pô. Não dá pra ser menos enigmático?

Ô se dá. A galera que cresceu consumindo USA das 9 às 6, cresceu e tomou o poder. Está dentro dum sistema em que dinheiro é o que manda, logo, tudo tem que ser lucrativo, mas agora, também tem que ser bem feito. Porque os diretores, produtores, atores, conhecem a obra e não permitiriam o mal uso de algo que respeitam ou amam.

Mas... amar não é um verbo muito forte?

É. Mas é esse o verbo mesmo. Tudo que aprendemos a gostar e a praticar quando muito jovens nos segue por toda a vida. Com religião e desenho animado é assim. Mesmo depois de muito tempo, quando nos ocorre que talvez a Virgem Maria não fosse virgem de fato e que o Salchicha do Scooby Doo fazia uso de substancias ilícitas , pois via fantasmas em todo canto e tinha uma larica insaciável, ainda somos incapazes de encará-los de maneira diferente. E vamos às suas defesas caso alguém lhe ofenda a honra.

























Cinco jovens que não trampam viajando sem destino num furgão chamado “A Máquina do Mistério”. Sei... mistério é o que eles carregavam lá trás. Pra mim, era tóchico.

Ah, que exagero. Eu discordo.

Pois então como você explica o fenômeno Heavy Metal? Os caras passam rímel, usam calça de couro, têm cabeleiras, brincos, pulseiras e cantam fino, mas se alguém falar que Iron Maiden era um bando de bicha, sai de baixo. Os fãs vão querer enforcá-lo, queimá-lo, espancá-lo e é possível que depois disso, ainda queiram matá-lo. Depois disso, você ainda duvida que o Heavy Metal receba o mesmo tratamento messiânico que os religiosos despendem aos seus cultos? Como pode explicar o regozijo de um monte de marmanjo ao ver nêgo vestido de arauto do demônio com guitarra transformada em machado tocando a mesma música há trinta anos?

Você quer dizer que são como se fossem xiitas do Metal?

Não disse isso. Mas pensando bem, gostaria de ter dito.

E você? Gostou do filme novo do Batman?

- O roteiro é bom. Mas gostei mesmo do Coringa, porque dá um novo peso ao termo vilão. Os gangsteres de Gotham não são muito diferentes de alguns políticos, advogados, publicitários e especuladores, er.. , quis dizer, investidores, que gostam tanto de dinheiro como todos nós, mas que, diferentemente, estão dispostos a passar por cima de tudo e todos. Diferentemente de nós, também, são saudados como heróis em revista e televisão.

-Tá. Mas e tirando o Coringa. Você curtiu?

-Olha... eu acho uma boa idéia colocar o Homem Aranha saltando pra lá e pra cá num filme. Assim como pôr o Super Homem ou o Homem de Ferro voando, ou o Hulk quebrando tudo quando dá pití, porque não vemos isso na vida real. Em termos visuais, Batman não funciona tão bem como esses outros, porque um cara metido numa roupa de morcego parece alguém que vai ao baile brincar. O impacto não é o mesmo.
Gostaria de tê-lo visto de maneira lúdica, capa esvoaçada, se movendo de maneira impossível, numa Gotham City que não se parecesse com Chicago, mas sim, com Gotham City.

























Ah! Esse sim é o Batman que eu conheço

-quem critica tem que achar soluções...

-Claro! Bastaria ter filmado tudo em “Neo New Cinema Novo” ®.

-New neo...?

-NEO NEW!!! Eu que cunhei. É uma técnica onde o mundo é recriado digitalmente e os atores são inseridos. Veja esse exemplo.




Nesse momento, fez-se a luz (na parede) e as imagens do trailer do novo filme do Spirit
começaram a tomar vida. Nesse momento também, o sonho começou a se dissipar...

Sabe, agora, em retrospecto, esse foi um dos sonhos mais estranhos que tive. Primeiro porque a caverna se parecia com um bar. Segundo, porque o elixir que bebíamos em copinhos baixos e quadrados nos intoxicavam a ponto de fazer com que as palavras saíssem mais lentamente de nossas bocas.
Hmm. E talvez o filme tenha se dado numa tela menor... me lembro que Leonel comandava a projeção através de uns botõezinhos.
Não sei. Tenho certeza que tudo ficará mais claro depois que essa maldita dor for embora. Ai minha cabeça...

Adeus

L

Ps. Para os que pensam como eu e gostariam de ver o Batman com um visual do jeito que ele merece, sugiro um DVD que acaba de sair. Chama-se “Batman - Gotham Knight”. São seis animações dirigidas por seis mestres da animação japonesa. É lindo de morrer. Seguem o site oficial e o trailer.
Site oficial: clique aqui


3 comentários:

Anônimo disse...

Lovric,

deletei o email em que vc passava o novo email.

Vamos fazer algo no sábado. tenho uma sugestão. Me escreve ou me liga??

bjs
Cris Sato

Anônimo disse...

Hmm... cada vez melhor...Adorei! Criativo, substancial e espirituoso!

Bjs, B.

Anônimo disse...

o eric, ele é meio gênio.