quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Somos todos crioulos ou; das macaquices do governo‏

Há dez anos, numa incursão prolongada à escandinávia, eu bebia cerveja numa taverna. A loiraça que ali adentrou me viu e dirigiu-se à minha mesa. Atitude comum às fêmeas do longíquo norte. “Que Odin abençoe este continente, pois lá vamos nós de novo”, pensei. Mas nessa noite, algo saiu errado. Eis o que fez meus ouvidos sangrarem (em tradução livre); “Você é simpático e coisa e tal, mas é muito bonitinho. Eu gosto mesmo é de preto macaco”.

E todos formulam suas teorias sobre a vitória do Barack, ou se desculpam pelas apostas não vingadas, mas só uma coisa é certa; O Barack ganhou porque é bonitinho e charmosão. Se fosse preto macaco, não ganhava. A garota dinamarquesa não é o padrão. Aliás, tive que ir até o fim do mundo, literalmente, para encontrá-la. O padrão é todo o resto, com mães, tias e avós apolíticas inclusas. O importante hoje é o bonito e o jovem. Queria ver se estariam dispostas a expressar tamanha simpatia caso o candidato fosse o Mugabe, o atual presidente do Zimbábue.


Banho de loja o cacete! Que mané micromarketing o quê! Tá me tirando? Se quiser votar em mim, é assim. Se não quiser também, dane-se. Vou continuar presidente pelos próximos 30 anos de qualquer jeito mesmo.


E vamo que vamo. A cada década vão nos dizendo do que gostar, o que descartar. Nos últimos dez anos, fumar virou feio e ser preto virou legal/bonito. Eu é que não estou reclamando, mas não dá pra levar a sério. Sobretudo quando me lembro de quão dura a vida costumava ser. Me lembro do que era ser negro, em criança, antes do politicamente correto atingir o horário nobre. Não era fácil brincar de super-herói. O meu favorito era o Batman. Quando eu o escolhia, vinha uma voz; “Não! O Batman não é neguinho!!” e lá ia eu, podendo optar apenas entre o Homem Borracha ou o Vulcão Negro, dos Superamigos. Um mais banana que o outro...


Homem-Borracha: Um obscuro super-herói de uma obscura série produzida por um estúdio não menos. Uma, das duas únicas opções para os neguinhos da década de 80.

O politicamente correto se alastrou pela mídia americana como uma praga, se instalou e lá está até hoje, aparentemente irremovível. Mulheres, judeus, pretos, japas, bichas... todos viraram intocáveis.


Na década de 70, os estúdios Hanna-Barbera adaptaram os quadrinhos da Liga da Justiça em desenho animado. No meio do caminho, encontraram o politicamente correto e aí zuou. Tiveram que criar alguns personagens extras, que não existiam nos quadrinhos, para que crianças de outras etnias não se sentissem excluídas. Um japa, um chicano, um crioulo e um indião. Eu já achei supimpa. Hoje, me parece o pessoal do Village People.


Enquanto isso, na Sala da Justiça: “Vejam nossas roupitchas, gentém... Não percebem que representamos uma outra minoria também? Ai, bafôn total!!!”


Enquanto isso, na amada idolatrada salve salve, entre uma propaganda de Vitassay aqui e uma negação de paternidade ali, o Pelé me lança: “No Brasil não existe racismo”. E lhe caíram sobre a cabeça. E o que é pior. Ele estava certo.


Tirando os gaúchos, que parecem odiar todo o resto, independente da cor da cútis inclusive, somos completamente inúteis como racistas. Primeiro que já misturamos além do que qualquer branco racista europeu consideraria ser o grau permissível de morenice. Além, somos preguiçosos demais e/ou cordiais demais e/ou optamos pelo “deixar como esta para ver como fica”. É impossível imaginar uma galera com facas, tochas e grilhões, marchando avenida paulista abaixo, gritando em coro; Matem os mamelucos!!!


Nos EUA, negros e brancos fumam cigarros diferentes, comem comidas diferentes, ouvem música diferente e falam diferente. Italianos, Irlandeses e Asiáticos têm filhos e netos que continuam sendo italianos, irlandeses, etc. No Canadá, eu era aceito no bar Croata por causa do meu sobrenome, mas minha amiga branca saxã local, não, porque pertencia a outro povo. Os escandinavos estão lá há várias centenas de anos sozinhos, isolados, sem mistura, logo, são todos iguais. Qualquer forasteiro é olhado e tratado diferente. Para o bem ou para o mal. O Japão, idem. A Europa continental sempre foi muito mais pluralista do que costumamos imaginar, relegando as maiores tretas a diferenças religiosas. Assim como o resto do mundo, que se mata por diferença ideológica. E os Bálcãs e a África, com suas limpezas étnicas; o primeiro sem que qualquer crioulo esteja envolvido, o segundo, onde todo mundo é negão matando negão.


E o Luís Ignácio veio que veio. Na ânsia de inserir o Brasil no mundo, ele e seus cabulosos companheiros reduziram “racismo” a conceito de novela das oito e criaram um ministério pra integrar os negros e um sistema de cotas. E até hoje são incapazes de definir a cor do porteiro do palácio da Alvorada. O Brasil é uma bagunça genética. Criar um Brasil dividido em raças é criar um Brasil racista. Importar o racismo... De todas as macaquices do governo, essa foi a máster.


Bom dia da consciência negra a todos. O que diabos quer que seja o significado dessa data.



2 comentários:

piraquara disse...

Eh de dedo na ferida em dedo na ferida que um povo evolui. Como jah dizia Darwin, que soh nao virou santo ainda porque ninguem tem muita coragem de dizer que ciencia eh como uma religiao, a selecao natural eh baseada em diversidade e selecao. Pois bem, variedade temos de rodo, mas e quanto aa selecao? Bom essa ficou em segundo plano porque nossa aparente boa vontade que tende a agregar a todos parece insuperavel. Mas opa! Perai! Nem todo mundo, porque a turma do bigodinho nao pode nao. Como jah dizia o capitao dos bombeiros segurando uma copia do Mein Kampft em Farenheit 451 'temos que queimar todos os livros porque sao nocivos aa igualdade de todos.' Pois eh, pelo jeito soh dah pra nivelar por baixo mesmo, porque enquanto o ceu o limite todo mundo sabe quao baixo, e sujo, eh o piso. Enquanto isso tem gente que se orgulha em dizer que os negros sao especialmente bons em musica e esportes. Mas nao se preocupem, nao somos radicais a ponto de sermos racistas. Na melhor das hipoteses preconceituosos. Mas isso soh ateh comecarem a quebrar os cristais.

Zeca disse...

Uma observação amigo: como Gaúcho eu devo salientar que somos tão bairristas que nos esforçamos tanto para sermos brasileiros... Tanto que nossos negros quando no Rio de Janeiro são confundidos com jamaicanos... (pior que é verdade!)

Ótimo post...