Adoro japorongas. Na escola, costumava andar sempre com os orientais. Certa vez, na sétima série, em mundo pré-politicamente correto, o capataz parou de escrever na lousa, olhou pra mim e disse: "ô negão... por que você gosta de ficar sentado aí na Liberdade?".
Se ele tivesse assistido a Akira, teria se lembrado que por trás de uma obra prima, nunca tem um povo tosco. E o que mais senão a arte para naturalizar a todos nós numa mesma pátria superior?
Tomar duas cacetadas nucleares na cabeça é muito punk. O resto é coisa de maricas. As bombas foram o ingrediente final, que misturados com tradição milenar em disciplina, culminaram em Akira, animação de Katsuriro Otomo, de 1988: uma ficção pós-apocalíptica que catapultou o Japão ao nível de produtor de animação como grande arte, ao lado dos EUA. Mas a diferença é que “ pós- apocalíptico”, no Japão, não é ficção.
Se ele tivesse assistido a Akira, teria se lembrado que por trás de uma obra prima, nunca tem um povo tosco. E o que mais senão a arte para naturalizar a todos nós numa mesma pátria superior?
Tomar duas cacetadas nucleares na cabeça é muito punk. O resto é coisa de maricas. As bombas foram o ingrediente final, que misturados com tradição milenar em disciplina, culminaram em Akira, animação de Katsuriro Otomo, de 1988: uma ficção pós-apocalíptica que catapultou o Japão ao nível de produtor de animação como grande arte, ao lado dos EUA. Mas a diferença é que “ pós- apocalíptico”, no Japão, não é ficção.
Sendo mais difícil ser basbaque depois que já se viu o fim do mundo, as histórias japonesas são a antítese do final feliz proposto por Roliúde. Enquanto o Super-Homem e o Capitão América morreram e ressucitaram, o Batman teve a coluna partida e voltou a andar e os Thundercats resolviam tudo em 22 minutos e acabavam o episódio em gargalhada, os japas entornavam o caldo. A versão japonesa do Pinóquio era de arrancar lágrimas de estátua. Como sofria, aquele boneco de pau. Conheço gente que chorava. Em “Marco”, a música de abertura dizia “Mamãezinha, não me deixe”. Sem contar o episódio do Dom Drácula que traumatizou toda minha geração ao mostrar o filhotinho de panda sendo morto por um caçador quando a bala varou o seu corpo, enquanto ele tentava proteger o filhotinho de tigre. Os dois estirados no chão abraçados. Corpos inertes. Musiquinha triste. A Sangria chorando. Eu, quase. Isso lá é lição pra criancinha? Que tudo morre? Aparentemente, sim. A vida é dura. Nas bandas de cá, sonha-se com príncipes encantados e Ferraris e fica-se triste e toma-se Prozac. Se comparados, nós do novo mundo não conhecemos o sofrimento. Aquilo que o Datena faz é circo. Pode perguntar pra ele.
(a cena se passa no quarto minuto.)
Mas, viver com os pés no chão traz vantagens. Sexo move o mundo, logo, a conotação sexual em animes é enorme. É nêgo mostrando bingulim:
Velho tarado bolinando menina:
E por aí vai. Tudo isso num desenho para criança. O He-Man andava seminu, a Teela de shortinho cavado e nem nos ocorria um fuquefuque entre os dois. E aqueles meninos perdidos da caverna do Dragão: todo mundo na puberdade, sem pais por perto e nada rolava. Moralismo é isso aí.
O sofrimento imposto pelas bombas e a desmoralização da derrota achou vazão no mangá, uma das poucas alternativas de entretenimento no Japão do pós guerra. Com tudo reduzido a tapete de escombros, era isso ou ir no cinema, que significava sentar no sereno vendo projeções na parede de uma casa, onde a população local se reunia - quando descolavam um projetor...Numa dessas, o mestre Osamu Tezuka decidiu retomar a arte dos pintores de pergaminhos do século XII e gravadores de madeira do século XIX e inventou o tal Mangá, a história em quadrinhos japonesa.
Hoje parece lugar comum, mas foi ele quem arranjou uma forma inédita de representar movimentos através de linhas de ação e repetição de imagens.
As animações americanas foram grande influência no trabalho do Tezuka. Durante a década de 50, o mestre ia no cinema e via o mesmo filme trocentas vezes, porque queria analisar um desenho ou uma cena em particular. Gravava na cachola, voltava pra casa e rabiscava. Logo, os olhos enormes dos personagens de Mangá advém de um exagero sobre a referência americana de Tezuka, não do complexo, como muitos acham. Ele padronizou e o resto seguiu. E até hoje, heroína de desenho japonês tem a cara da Betty Boop.
O sofrimento imposto pelas bombas e a desmoralização da derrota achou vazão no mangá, uma das poucas alternativas de entretenimento no Japão do pós guerra. Com tudo reduzido a tapete de escombros, era isso ou ir no cinema, que significava sentar no sereno vendo projeções na parede de uma casa, onde a população local se reunia - quando descolavam um projetor...Numa dessas, o mestre Osamu Tezuka decidiu retomar a arte dos pintores de pergaminhos do século XII e gravadores de madeira do século XIX e inventou o tal Mangá, a história em quadrinhos japonesa.
Hoje parece lugar comum, mas foi ele quem arranjou uma forma inédita de representar movimentos através de linhas de ação e repetição de imagens.
As animações americanas foram grande influência no trabalho do Tezuka. Durante a década de 50, o mestre ia no cinema e via o mesmo filme trocentas vezes, porque queria analisar um desenho ou uma cena em particular. Gravava na cachola, voltava pra casa e rabiscava. Logo, os olhos enormes dos personagens de Mangá advém de um exagero sobre a referência americana de Tezuka, não do complexo, como muitos acham. Ele padronizou e o resto seguiu. E até hoje, heroína de desenho japonês tem a cara da Betty Boop.
O golpe de sorte de Tezuka veio em 63, quando a Fuji TV aceitou transformar a série de mangá Astro Boy em desenho animado (anime, como dizem).
Americano faz, japonês desmonta pra ver como é e refaz melhor. Pensamos que isso fosse exclusivadade da Mitsubishi e mais recentemente, Honda, mas com animação não foi diferente. Eles expandiram as possibilidades da animação limitada criada por Hanna-Barbera desenvolvendo uma maneira única de contar histórias de ação. Logo, quando a animação japonesa chegou na América na década de 70, a molecada americana se deu conta que a maioria dos desenhos made in USA para a TV era inferior em gráfico e conteúdo ao equivalente djép e se apaixonou. Entre essa molecada estavam os irmão Wachowski, que cresceram e encheram os orifícios de bufunfa regorgitando manga e anime em sua trilogia Matrix e agora que conseguiram autonomia, se dedicam a fazer o que bem entendem. E o que bem entenderam fazer por último foi uma versão de Speed Racer, um dos primeiros animes a chegarem na América. Agora vão mandar tudo de volta ao Japão em estilo “Neo New cinema Novo” (eu que cunhei) e influenciar toda uma molecada de Tóquio, Nagasaki, etc. apaixonada por videogame e histórias de ação. O círculo se fecha.
O Neo New cinema Novo foi criado em Sin City, de 2005. Até então existia o filme, a animação, a adaptação de animação em filme, o contrário, e o filme com animação (tipo Roger Rabbit). Em 89, Warren Beatty encarnou Dick Tracy, num filme em que os cenários reproduziam tão fielmente quanto possível o universo da tira. Mas Sin City deu um passo muito além. Foi o primeiro filme onde o universo foi recriado digitalmente e os atores (de verdade) alterados, também digitalmente, para serem inseridos nesse universo. É como ver o quadrinho na tela. Eu, particularmente, acho filme chato, mas o visual é um jab no queixo. É lindo de morrer.
Speed Racer se chama de fato Mach Go Go Go. Mach 5 é o nome do carro. Go, cinco em japonês , é, lógico, palavra semidistinta para “vai lá e detona” do inglês. Logo, o personagem principal era o carro. Como a idéia era inconcebível na América, mudaram o foco para o corredor. Houve inclusive episódio cortado/editado por rede de tv americana por acreditarem que ao público não estaria pronto para a complexidade de certas tramas (traição, assassinato, etc).
Agora, qual o segredo do sucesso? Ora. É um desenho sobre carros. Meninas e meninos brincam de carrinhos. Meninos brincam melhor, pois sabem fazer acidentes mais espetaculares. Aí fazem um desenho sobre carros? Irresistível.
Ainda que você não partilhe do entusiasmo da molecada ou dos fãs, É inegável que está-se diante de algo novo. Se quiser ver no que o mundo está se transformando, é uma boa oportunidade...
Agora, qual o segredo do sucesso? Ora. É um desenho sobre carros. Meninas e meninos brincam de carrinhos. Meninos brincam melhor, pois sabem fazer acidentes mais espetaculares. Aí fazem um desenho sobre carros? Irresistível.
Ainda que você não partilhe do entusiasmo da molecada ou dos fãs, É inegável que está-se diante de algo novo. Se quiser ver no que o mundo está se transformando, é uma boa oportunidade...
3 comentários:
Prezado Sr. Lovric,
Falando em japonês, trago um comentário que tem a ver. Ou não. Você quem sabe. O fato é que sou sabidamente tarado por videogame, desde a infância. Quando meu pai disse que eu ia ganhar o Atari no dia seguinte, eu passei a noite me revirando na cama de ansiedade. Mas meu pai tinha que fazer tudo do jeito dele. Ao invés de ir na porra da SEARS (que ficava ali onde hoje é o Shopping Paulista) e comprar o catso do Atari, bonitinho, na caixa e com garantia, ele me resolve fazer um esquema com o cara da locadora da esquina que atrasou e coisa e tal. Resultado, mais noites de tensão e angústia. Não é toa que fiquei zoado assim hoje.
Mas voltando ao japonês. Outro dia estava vendo o Discovery Channel e tava passando um documentário sobre a história dos Videogames. Lá contava como foi o lançamento do Nintendo 16 bits, um pusta videogame revolucionário. Foi o primeiro a lançar um jogo com personagem e com história. Foi quem inventou o conceito de passar de fase, e de ter uma fase diferente da outra, superando aquela punhetagem do Atari que só aumentava a velocidade. Inventou os chefões no final das fases. E, consequentemente, o conceito de terminar o jogo, o orgasmo múltiplo dos aficcionados por videogame.
Enfim, os japas inventaram a parada, mas os americanos não queriam bancar. Eles achavam que ia ser um fracasso, já que na época estavam se popularizando os PCs, que já tinham uns joguinhos razoáveis. Eu lembro que vivia na casa do amigo riquinho do meu prédio, só porque o irmão mais velho dele tinha um Apple e a gente podia jogar CONAN e PRINCE OF PERSIA.
Felizmente, os japas enxergaram o óbvio. O videogame era um outro conceito de produto. E muito mais legal. Resolveram bancar o risco e lançar o Nintendinho. O resto todo mundo sabe.
Outra prova de que os japas da Nintendo eram geniais é o primeiro personagem criado. O Mario Bros tem aquele bigodão porque a resolução ainda era muito baixa e o bigodão, junto com o narigão, foram formas de dar personalidade forte ao persogem, sem ter que criar todos os traços do rosto bem dofinidos. O mesmo vale pros outros desenhos do jogo (o cogumelo, a tartaruga e por aí vai).
Nossa, Eric! Que aula de Neo New Cinema Novo! Escreve um livro, vai! :)
e mais - auto-censura. O Spielberg tirou as armas das mãos do policiais que perseguem o ET na bicilceta, e substituiu por cacetetes, e o cretino do Jorge Lucas apenas disponibilizou em DVDs as versões "revisadas" com
cacarecos 3D dos três primeiros episódios. As versões orginais foram deletadas.
Claro, não há política nenhuma nesses casos, e as consequências disso são bem menores, mas é também um jeito de reescrever a história. Deve ser um modus operandi deles.
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