segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Minha barriga dói ou: morador de favela tem que votar na Liga.

















Eu vou, eu vou, pruma favela do Rio agora eu vou. Lalalalala...

Noutro dia acordei com fortes dores no estômago e fui no gastro. O nome da recepcionista era Fúvia. FÚVIA. Tem quem goste. Eu prefiro Ivonette ou Regiane. Se eu fosse médico e tivesse um consultório, minha recepcionista se chamaria um desses dois. Mas deixa pra lá. O romantismo do mundo está em extinção mesmo.

Havia Vejas, Caras e Exames. Veja. Batata. Eu não resisto à Veja. Até o cheiro dela é de classe média. Tal frase não quer dizer nada além daquilo que quer dizer. A classe média, com o seu esforço hercúleo para se manter mais longe do abismo e mais perto da Ilha de Caras, carrega esse país nas costas. O mínimo que merecem em troca é uma representação decente na banca de jornal. Nesse quesito, a Veja é uma obra prima. Eu não resisto à Veja.

Leio e vejo que o Luís Ignácio deu as caras nalgum evento público semana passada para falar sobre heróis. Sobre como nos preocupamos em “xingar” quem matou o militante contrário à ditadura quando o certo, seria reverenciar o morto.

Daí me lembro: “Putz, podicrê! O Brasil, pilotado pelo louco do Jânio Quadros, entrou mal numa curva e tomou um golpe militar nas fuças”. Fazer o quê? Acontece. Sobretudo na América Latina e na África. Tal frase não quer dizer nada além daquilo que quer dizer.

O médico interrompe meu devaneio. Se eu estivesse entediado ou com pressa, tenho certeza que não teria me mandado entrar tão logo. Se a Fúvia fosse mais formosa e receptiva e se não portasse aliança, e se e eu, naquela manhã, tivesse acordado no meu módulo Pepe Le Pew, também tenho certeza que não teria me mandado entrar tão logo.


Pepe Le Pew foi criado por Chuck Jones em 1945, na Warner. Sim, você se lembra dele... o gambá que queria traçar a gata. Nunca foi meu favorito, mas sendo um Jones, é altamente apreciável. A realidade distorcida, a palheta de cores impecável, as expressões dos personagens, o timing, o amor pelos franceses.



"Who Scent you?" De 1960, dirigido por Chuck Jones







Pra mim, aquela gata estava a fim, mas acho que nunca vou saber. O universo feminino é o único onde um “não” pode significar “sim”, e vice versa. Tão diferente da matemática clássica, que rege e explica todo o resto do universo, desde a ameba até o ciclo de vida das nebulosas. Mas a matemática não foi feita para ser amada, apenas compreendida. Cada um na sua.
















C'mon, meninas. Ele até podia ser um grude. Mas ela, embora gata, fazia um doce do cão,
cêis não acham?


O médico me parece super gente boa. Para retribuir, saco a estratégia conversacional número 4. Futebol. Pois era Quinta-feira. Sempre uso a estratégia 4 às Segundas e Quintas.

O celular toca. Não o meu. Toque de nêgo tradiça. Barulho de telefone mesmo. Nada de musiquinha. Ele atende e sai da sala pra falar. Penso em se tratar de mulher nova, porque o “alô” é hiper meigo. O minutinho necessário para que ele atendesse a ligação se transforma em cinco. No segundo, começo a divagar sobre o termo "ditadura", que acho estranho, porque não tivemos um ditador. Tivemos cinco presidentes que se alternaram no cargo sem que o povo os elegessem, verdade, mas também sem que houvesse uma disputa de poder que nos lançasse nas trevas de uma guerra civil, ou seja, conseguimos manter o principio básico da Democracia. mesmo durante um golpe militar. Eu digo que o Brasil é um país mega inventivo... nêgo não acredita...


Me ocorre que o pior do golpe no Brasil talvez não tenha sido a falta de liberdade de expressão. Era duro, mas dava. Aliás, teve uma galera que se fez criando meios de burlar os agentes da lei e da ordem. O pessoal do Pasquim, por exemplo. O Pasquim, para passar sua mensagem de indignação contra o sistema, acabou criando uma nova linguagem popular porque teve que se distanciar da pomposidade dos grandes jornais da época. Paulo Francis dizia que quando a “ditadura” acabasse, o Pasquim fecharia, pois ficaria todo mundo dizendo a mesma coisa. Acabou, fechou. E até hoje se diz a mesma coisa.

E o que NÃO se diz? Que o pior da “ditadura” era dar poder demais a quem não sabe exercê-lo. Ao policial da esquina. Dos cinco presidentes militares, só dois eram a favor da tortura, o que nunca a impediu de acontecer. Hoje, quem senta na cadeira de presidente, comeu farofa e veio para o sul maravilha na boléia, criando o maior exemplo de orgulho da democracia nacional . E daí? Brada contra a ditadura enquanto todo mundo ojeriza a intervenção militar, mas o gambé da esquina ganha mais e mais poder e escalamos, para status de Estado Policial. Hoje, estamos num Estado Democrático, mas com imprensa vendida e onde a Rádio Patrulha, em alguns lugares, tem mais poder que os Comandos em Ação.



















Nóis bota banca de mau e atira nos outros mas perto daqueles caras que sobem o morro,
nóis é fichinha



Mas nada devemos temer, pois a Liga da Justiça está aqui para nos salvar.

Meu senso de humor pode ser várias coisas, menos doentio. É verdade mesmo. No Rio, em várias favelas, tem agentes do Estado que se organizam em milícias, para impedir a entrada do tráfico e da prostituição nos morros. Numa delas eles se intitulam a Liga da Justiça. Bonito, né? Só que de quebra, intimidam os moradores para que votem em seus candidatos, dando uma cara nova ao voto de cabresto. Imitam um pouquinho o Dom Corleone também, cobrando por serviços como ligação clandestina de tv a cabo (gatonet) e fornecimento de água, e extorquindo dinheiro das empresas de transporte. Ê, beleza...
















O Deputado Natalino Guimaraes, recém-posto no xilindró, usa o bat-símbolo em sua campanha.
E tem uma candidata chamada Carminha Bat-Girl. Eu falo que a parada é zuada... nêgo não acredita...


Depois que o médico ouve o que tenho a dizer, me oferece duas pílulas; uma azul e outra vermelha. Me diz que a azul me trará alívio momentâneo enquanto a vermelha é o primeiro passo para uma solução definitiva para o meu problema. Decido pela vermelha e ele vem e me diz:
“O seu problema, na verdade, é psicossomático. Preocupe-se menos com as coisas. Deixe esse negócio de sofrer por time de futebol pra lá e compre um cachorro e passe seus fins de semana na praia com sua namorada que o problema vai embora”.

“Sei. E quem vai se preocupar com as coisas?” Penso, enquanto me ocorre que Fúvia seria um bom nome para minha futura úlcera.

Ah, em tempo. O que garante que eu não seja preso por dizer o que penso não é a Democracia, é o Estado de direito. O que a Democracia nos permite é controlar um pouco os abusos de um único grupo de gângsteres no poder. Também nos permite acreditar que
dar legitimidade ao eleito através do voto popular vai nos deixar em melhor posição do que se escolhêssemos nossos líderes em sucessões de cara/coroa, pois Vox Puppuli, vox Dei. Ora, e quem determina se vai dar cara ou Coroa? Também não é Deus? Eu penso assim. Mas cada um pensa o que quer. O que também não é Democracia. É livre arbítrio.

Bai-bai.

2 comentários:

Anônimo disse...

Segundo a física quântica, nem Deus sabe que lado da moeda vai cair, mas aposto que ele se diverte vendo que nós achamos que ele sabe... E torcendo por Sua ajuda a cada vez que ela é lançada.

Anônimo disse...

Cara, teu Blog é o melhor do mundo.
Incrivel. Parabéns. Por favor, continue escrevendo.
É muito bom ler algo que não é medíocre, para variar.
Muito grato,