terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os Ursinhos Carinhosos vão à Vila Madaloca















Os Ursinhos Carinhosos eram super gente boa. Só tinha gente boa naquela droga de desenho. Até o vilão era gente boa. O padre da paróquia lá do bairro é pior do que ele.

Culpa do liberalismo econômico sem rédeas e do bom mocismo da era Reagan. Algum engravatado da Mattel (fábrica de brinquedos que faz a Barbie) descobriu que se uma linha de bonequinhos fosse lançada ao mesmo tempo que uma série de animação do mesmo nome, venderia como água. E aí Fez-se “He-Man e os mestres do Universo”. Isso em 1983.

Aí, pronto. She-ra, G.I.Joe, Transformers, Centurions, O meu querido Pônei e o escambau. Que mané roteiro ou qualidade. O negócio era quantidade feito a toque de caixa para vender cada vez mais. E nós, acuados pelos Thundercats na hora de almoço do domingo, nada podíamos fazer a não ser nos maravilharmos com as cenas de ação animalescas e desejarmos que algum tio nosso, fantasiado de papai noel velho batuta, nos trouxesse uns bonequinhos em seu saco. Os mais ousado$ sonhavam logo com o Thunder tanque. E como menina também é gente que consome, fez-se “Os Ursinhos Carinhosos”. Personagens fofos, que não fazem mal a ninguém e que sempre sabem a diferença entre certo e errado e que amam a todos sem distinção. Eu me lembro que eu ficava triste quando o desenho começava porque não tinha ninguém por perto para abrir meu crânio a machadadas, pois a sensação que tinha era de que a dor me pareceria menor.

Se você, hoje mulher feita, costumava gostar dos Ursinhos e estiver achando que estou sendo injusto, não se preocupe. É só assistir dois minutos de qualquer episódio que o sentimento passa.



Abertura dos ursinhos carinhosos. Técnica de tortura: trancar o malfeitor numa sala com essa musiquinha em loop. Nêgo entrega até a mãe.

A verdade é que temos propensão a gostar para sempre daquilo que nos foi apresentado como sendo supimpa em nossa infância. Nos pega numa idade tão tenra, que não temos como nos defender. E depois que a coisa grava no cerebelo, não conseguimos nos livrar nunca mais, por mais que tentemos. Covardia braba. E olha que tem instituição que faz uso desse estratagema há dois mil anos.

No Brasil de hoje, sinto que vivemos a “Síndrome dos Ursinhos Carinhosos”. O negócio é ser gente boa. Basta. Nada de opiniões contundentes ou defender doutrinas pouco ortodoxas (se o William Bonner não falar sobre, então é pouco ortodoxa.) Tem babaca que anda por aí dizendo que é elitista ou de direita. Que absurdo. Pega mal. Logo, são mais recriminados do que quem usa sandália de couro. Pior mesmo, só as pessoas que têm a pachorra de discordar que o todo homem é bicha e ainda não sabe.

Mas são pobres almas à deriva, essas. Hereges que não se deram conta de que as portas do céu só se abrirão quando eles deixarem os rompantes de inconformismo de lado e se tornarem gente boa sangue bom, que se emocionam no dia do índio e frequentam a Vila Madalena.
Todo mundo que eu conheço é gente boa. Tirando dois cretinos e alguns parvos. Mas o resto em peso é gente boníssima. Não fariam mal a uma pomba, embora matem barata. Ninguém quer o mal, ninguém faz você tropeçar e estão dispostos a ajudar mesmo quem tropeça parado.

Eu achava o movimento super bacana. Mas aí me deram aquele livro do Einstein em que ele dizia: “ O problema não é o mal existente no universo. O problema é que as pessoas
boas que o reconhecem o deixam continuar existindo”.
E aí todo o movimento começou a parecer menos bacana, embora ainda sussa, lógico.

Albert pode até ter bombado a sexta em matemática, mas não era burro.

Nem todo mundo sabe que Albert bombou.

Plucky Duck não sabia disso quando pediu para Shirley The Loon ( pastiche esotérico da Shilery Mclane. Leiloca, em português) transformá-lo em gênio para passar na prova para qual não tinha estudado. Isso foi em “Steven Spielberg Presents Tiny Toon Adventures”, de 1990. Quem cresceu nos 90 se lembra dessa série com carinho. Também pudera. Foram eles que trouxeram a diversão de volta aos desenhos, depois de uma década dominada por gentes boas e afins, financiados pelos capangas de gravata, er, digo, executivos de televisão.
















Parecemos bonzinhos, mas é só para despistar a censura.

O Spielberg foi quem teve a idéia de tirar os desenhos das mãos dos engravatados e devolvê-los aos animadores e cartunistas. Fez com que a Warner reabrisse sua divisão de animação fechada desde 1969 e produziu a série, que tratava de réplicas diminutas dos grandes personagens da era de Ouro da WB e sua vida na escola onde estudavam para se tornarem grandes astros do desenho animado, como os seus ídolos.

A série fez tanto sucesso que não só a Warner declarou que o estúdio continuaria funcionando, como definiu o qual seria o caminho que a animação seguiria na nova década.

“It’s never late to Loon” onde Plucky vira Einstein.




Mas na verdade, depois, aprenderíamos que Albert só viria a descobrir a teoria da relatividade com a ajuda dos irmãos Warner ,em “Cookies for Einstein” episódio da série Animaniacs (a segunda produzida por Spielberg na Warner)

“Cookies For Einstein”. Vai me dizer que você achava que Albert fez o trabalho sozinho...



E em tempo. Numa conferência a ganhadores do prêmio Nobel, em 1950, Albert se levantou, olhou o relógio e anunciou. “Excuse me gentlemen, but it is time for Beany” ( Foi mal aí, pessoal. Mas tenho que vazar, porque vai começar “O show do Beany. Fui!)

Time for Beany for ao ar de 1949 a 1955 . Obra prima do gênio Bob Clampett. Albert adorava o programa. Antes disso, Clampett havia trabalhado na Warner e feito os melhores desenhos do Patolino e do Gaguinho (opinião pessoal).

O pessoal dos Tiny Toons e Animaniacs, sempre que podiam, prestavam uma homenagem a ele. Se sobrava tempo, ao Einstein também, como se pode ver nos vídeos acima.

Os gênios se reconhecem...

2 comentários:

Anônimo disse...

Honey, se vc acha a musiquinha das ursinhas carinhosas irritante(aliás, euzinha sou uma...),escute so os Backyardigans...três horas daquilo num recinto fechado e voce criou um novo serial killer.

Unknown disse...

Ilmo. Sr. Lovric,

Talvez também seja pertinente lembrar do irrepreensível momento "lição de moral" que havia depois de cada episódio dos desenhos do He-Man e da She-ra. Pra mim botava os Ursinhos no chinelo. Literalmente voltavam a "fita" para mostrar: "veja, naquele momento Harry estava com muito medo, mas sua pureza de cárater permitiu que ele arriscasse sua vida para tirar He-Man da mira dos raios cósmicos e impedir Esqueleto de destruir para sempre o castelo de Grayskull". No desenho da She-Ra então, a lição de moral tinha requintes de crueldade, por ser apresentada por aquele guaxinim cor de rosa e azul-calcinha. E ainda tinha que procurar o desgraçado durante o desenho!

Nunca me esqueço de um Gibi tosquíssimo dos Trapalhões que um dia foi parar lá em casa. Maravilhas dos anos 80 que não voltam nunca mais. Uma determinada hora o doente do roteirista colocou o Dedé vestido com a roupa do guaxinim da She-Ra pra comentar a história. E ele esquecia a lição de moral, ficava atrapalhado e dizia: "Então crianças, não esqueçam de comer seu cereal matinal e ... até a próxima!".

Você precisa localizar esse cara e contratar pra sua empresa. Gênio!

Grande abraço,

Iatã.