terça-feira, 26 de agosto de 2008

Medalha medalha medalha: ou Jesus Cristo Super (Homem) Star







Aquele carinha lá. Sabe, aquele tal de Phelps? Então, ele não me parece um sapiens.
Está estampado na capa de três revistas essa semana. Duas fazendo alusão a “super”. Romantismo. “Super” é coisa de Clark Kent (Kal-El, para os íntimos), que caiu do céu vindo de outro planeta e ganhou super poderes quando exposto ao nosso sol amarelo, virando o Super Homem. O mito do Super Homem tem tudo a ver com a história de Jesus Cristo. Mesmo quem não leva em consideração toda a “papagaiada” de filho de Deus, etc, treme ante o caráter de divindade que lhe foi atribuído.

Kal-El é igual. O rebento dos deuses, vindo à Terra, criado por gente simples para guiar os homens com sua moralidade muito acima da média. O perrengue da adolescência, ao saber de sua missão, e a frustração de jamais poder levar uma vida normal. E o ato de oferecer a outra face ao agressor, embora muito mais forte, elevando assim a humildade à enésima potência. Maria, minha mãe, adora o Super Homem. Primeiro, porque os atores que o interpretam são sempre bonitões. Segundo, porque ela é do tipo que exercitaria a cristandade até se em coma. Agora, vai dar um role por nações não cristãs pra ver se ele dá todo esse ibope, vai .

Já Michael Phelps não tem nada de super. Ele é, na verdade, um mutante, pessoas nascidas com habilidades especiais que podem vir a ser o próximo passo na escala evolutiva; homo superior. Quem viu/leu X-men sabe. Wolverine e Ciclope são fantasias, mas algumas pessoas são assim mesmo.

Tenho certeza que se dissecarem Phelps, Hendrix, Pelé, Mohamed Ali, Ray Charles e mais uns outros aí, vão descobrir que eles nasceram com habilidades maiores que as dos outros. Não é de talento que falo. É de fisiologia. Não me admiraria em nada se descobrissem que o Pelé, além de tudo, enxergasse a realidade um décimo de segundo mais lento que a maioria. Explicaria a miséria que costumava fazer em campo.

Mas já se acabaram, as olimpíadas. Sábado, me chamaram para ver as meninas do Vôlei receberem a medalha medalha medalha. São ducarai, essas meninas. Mas minha barriga doeu, porque a narração era feita num tom que sugere que somos o melhor país do mundo. Sou alérgico à patriotismos, sabe. Pra mim, Patriotismo é o ímpeto que nos faz achar nosso país melhor que os outros só porque nascemos nele. E é incrível esse negócio. Quanto mais miserável e/ou jeca o país, mais patriota.

E quanto país tem nesse planeta. Afe. Na abertura, as delegações não acabavam. Penso também que os nomes dos países deveriam ser menos aleatórios. Deveriam significar algo ( o que diabos quer dizer Canadá?).
Sei, aqui teve a ver com aquela árvore e tal. Mas o que quero dizer é que fomos fundados como Estados Unidos do Brasil. E depois mudamos para outra coisa. Mas devíamos ter mudado para Brasil dos Estados Unidos. Ao menos significaria algo.


Quando me chamaram para ver as meninas receberem a medalha medalha medalha (preciso parar com isso), me lembrei da primeira vez que me chamaram para ver uma olimpíada. A de Moscou, em 80, na abertura. Fui separado a contra gosto do meu Playmobil faroeste para ver o Misha chorar. E eu lá queria ver o Misha chorando? Eu estava mais interessado em saber o que era boicote. Por que os americanos não estavam
participando? Saberia depois, aos 9, decretando minha total e incondicional simpatia à mãe Rússia. Depois, aos 13, fui no médico e ele me explicou que comunismo era uma doença crônica da esquerda infantil, romântica e festiva, e aí eu me curei pra todo o sempre.

Também estava interessado em completar o meu álbum de figurinhas Pateta nas olimpiádas, cujas figurinhas eram trocadas por tampinhas de Fanta. Por um mês, eu urinei laranja.

Entendo o fanatismo pelo esporte como a nossa submissão à verdade estarrecedora de que temos um cerne de violência irredutível. Freud explica. Explicou, aliás, que esses sapatinhos e gravatas supimpas que usamos é identidade secreta. O que curtimos mesmo é matar uns aos outros. Sexo vem em segundo. Ah, não? Façam o teste. Coloquem uma mulher bem feita rebolando de tanga do lado de uma tv mostrando a final de Corinthians e Palmeiras válida pelas Libertadores lá na Cidade Tiradentes. Vê quem consegue mais ibope.

Esporte é simulação de combate. Uns mais do que outros,verdade. Por isso que os homens piram. E esse negócio de dizer que o esporte une os povos. Lorota. O que nos une é arte. É a única coisa que nos naturaliza na mesma pátria superior. Por isso que não abro mão.

De volta aos mutantes. Peguemos Ray Charles, por exemplo. Alguém aí duvida que ele teria feito o mesmo sucesso se tivesse nascido na época de Mozart? Só não teria por falta de mecenas. Agora, peguemos Mick Jagger e sua patota. Se tivessem nascido nos tempos do Amadeu, teriam ficado no estábulo, lavando o membro do cavalo. Mozart comia com os criados. Mick tem um castelo na França. Nessas horas que me parece que estamos equivocados com relação a algumas coisas. Nessas horas que não consigo argumento para refutar os que dizem que o mundo já acabou.

Sempre gostei da representação esportiva nas artes. A que mais gostei, em criança, foi Tom Sem Freio (Tom Slick, Jay Ward productions, 1967-1970). Tom era campeão em todas as modalidades de corrida, fosse trem, helicóptero ou submarino. Eu costumava perguntar para o meu pai, antes de Maria o expulsar de casa por ele ter feito fora do urinol, por que não havia essas modalidades de corrida nas olimpíadas. Fernando, com sua paciência de Jó para responder a perguntas estapafúrdias, dizia que era inviável e ridículo. Hoje, aceito o inviável. Afinal, os jogos ainda trazem dardo, peso, hóckei na grama e corrida em rebolado.

Tom Sem Freio era segmento de George, o Rei da Floresta, junto com o Super Galo. Me lembro que o mundo se tornava um lugar infinitamente melhor quando esse desenho começava. Revi, já homem feito, e ainda é espetacular. Acho tão bom, que quando chegou a hora de criar o meu super-herói, copiei o conceito do narrador engraçadinho descaradamente. Descaradamente e com orgulho. Comparem.



Esse episódio é uma piada em que George enfrentava homens brancos malvados, tipo advogados maus que querem desapropriar sua propriedade para construir shoppings. Não...peraí... cadê a piada?
(em português)



Capitão são Paulo- o dia da barata

Esses desenhos eram um raio de sol nas trevas das produções meramente comerciais da época. Piadas que deixariam os Cassetas comendo poeira, em termos de sofisticação (se bem que...). Rocky e Bullkwinkle (1959-1961) fazia um sucesso estrondoso entre adultos e crianças. O responsável por isso era Jay Ward. Era tão excêntrico que comprou uma ilha na costa da Califórnia e foi até Washington de carro, colhendo assinaturas que garantissem a emancipação da Ilha em país. Chegou na Casa Branca no auge da crise dos mísseis em Cuba e Kennedy o mandou passear.



Abertura do Super Galo. Se alguém conhecer uma música de abertura mais hilária e demente, por favor, me avise.

Toda essa insânia e incapacidade de levar o mundo (muito) a sério é percebida em todas as suas produções. Jay morreu em 1989. Era rico e se dizia feliz em família, mas jurava que o melhor que lhe ocorreu em vida foi subverter toda uma geração com os seus desenhos. Quem dera. Alguns homens nascem com muita sorte.

adeus

Ps.A pressão aumenta pra que eu escreva sobre o novo filme do Batman. Venho por meio desta nota dizer ao povo que escreverei.

5 comentários:

Anônimo disse...

Show Super-Galo, Tom Sem Freio e o George! Tinha um outro que não lembro o nome, do mesmo estúdio. Era um cara que pilotava avião (acho que fazia parte de uma esquadrilha). Sempre aparecia um ninho de passarinho na saida da turbina do avião do cara. Lembra desse?

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