domingo, 7 de dezembro de 2008

Rapidinhas III



“Sentada na calçada de canudo e canequinha...”

Todo dia.

“...Tupléque tuplim, eu vi uma bonequinha....”

O dia todo.

É o som advindo do colégio aqui em frente, que prepara as crianças para o oba oba de final de ano. Me lembro muito bem desse totalitarismo, em menino. Na pré-adolescência o pesadelo prosseguiu. Além das provas que testavam meu conhecimento sobre o complexo de Golgi, orações coordenadas sindéticas adversativas e afins, ainda havia as gincanas cuja participação era “mandatória”.


Mas do que eu falava mesmo? Ah, sim, de crianças e oba oba natalino... pois é... ouço pais que reclamam que além de desembolsar mais de mil lascas mês por ensino porcaria, ainda têm que freqüentar cada celebração que os colégios de hoje inventam. Tem até festa de formatura da quarta série. Eu, nem filho tenho, mas tendo o meu estúdio na frente desse colégio, sofro a cada Junho e Dezembro, ouvindo musiquinhas toscas ad infinitum... e enquanto escrevo, as caixas de som vociferam, antes do almoço, pela enésima vez:

“Tupléqui, tuplim, bolinha de sabão...”


Alguém devia calar os rádios, cegar a televisão e queimar os jornais. Já sei já sei. Sou facista, me dizem os mais jovens metidos em suas sandálias de couro. Os antigos me dizem que se eu tivesse vivido a época da ditadura, não diria tamanha besteira. Mas a pergunta persiste: vamos permitir que a mídia faça o que faz sem assumir quaisquer responsabilidades? Esse ano, mataram a Eloá por transformarem seu caso em novela. Tirando todo o trololó, foi isso. Se os donos do circo televisivo não houvessem transformado aqueles três patetas em celebridades, o caso não teria chegado tão longe e a Eloá ainda estaria dando suas bandolas por aí.


E agora Santa Catarina. Quase nada do que vi na mídia pode ser classificado como informação. Assisti um noticiário de uma hora que não me disse nada além de que caiu um toró que afundou Santa Catarina. Tudo é exploração da desgraça alheia para vender xampu no comercial. E as perguntas: “O que você sentiu quando a enxurrada levou sua casa e sua família?” Lutamos por liberdade de expressão, contra a famigerada ditadura, para isso??? Prefiro presidente de medalha no peito e mídia controlada pelo governo (não que hoje seja diferente) e algum decoro, ao invés dessa exploração contínua da miséria humana. Contanto, lógico, que o Estado seja de direito. Afinal, não é poder eleger um presidente que garante minhas liberdades individuais. Jamais nos esqueçamos disso...


Acabo de ler “Ensaio Sobre a Cegueira”, de Saramago. Li porque queria ver o filme de Meirelles, que na minha opinião, é um dos melhores diretores de sua geração. Contando gringos.


O filme, ainda não vi, mas Saramago me pareceu um picareta. É. Isso mesmo. Um impostor total. Sub Kafka, sem charme, prolixo e chato. Eu adoro a premissa de fim de mundo, da cessão total da ordem (que ao meu ver, sempre é o mais horrível dos fins, porque real) e ainda assim ele me deixou com vontade de largar o livro já na metade. Só terminei para poder criticá-lo com mais propriedade.


Dar a outra face, dar uma outra chance, enfim, eu tenho que exercitar a cristandade (formatação marista, essas coisas...) Alguém aí pode me recomendar alguma obra que o redima? Mas só mais uma chance, hein, Zé...


Muita gente anda comparando a crise de hoje com a de 1929. Há semelhanças incríveis e uma diferença enorme. Em 29 a ajuda em massa foi para a população. Hoje, para os bancos e empresas, com o nosso dinheiro, com a justificativa que se eles se estreparem, nós nos estrepamos em dobro.


Enquanto me barbeava e pensava nisso que acabei de escrever, me veio um novo personagem à cabeça: “The beggar banker”.


Clique na imagem acima para ver grandão.


E em 2008 o capitalismo continua firme e forte, e o liberalismo econômico, sepultado. Se o Armstrong subisse à lua hoje pela primeira vez, diria: “A Terra é social democrata”.


E lá vamos nós... dando bilhões à indústria automobilística quando nenhuma grande ou média cidade do mundo agüenta mais carro em suas ruas. Ah, a insânia e suas ramificações...


E está aberta a temporada de confraternização. Embebedai-vos irmãos. E os amigos secretos... Alguns revolucionam com o “inimigo secreto”. E ai de quem não entrar... É calabouço social direto, sem escala.


Lição do dia: Jamais confie em banqueiro magro.


Logo mais tem mais


L


4 comentários:

Anônimo disse...

uhaushsuahsuahusahsuahsa

bom.

leia candido, de voltaire.

Anônimo disse...

Rapidinha boa assim, só você mesmo!

Anônimo disse...

o único que eu li dele foi "o homem duplicado", e achei muito foda. Tanto pelo roteiro quanto pelas suas colocações a respeito de tudo o que acontecia. Eu recomendo, acho que você ia gostar.

Sempre pensei sobre essas perguntas cretinas de reporteres. Eu teria vontade de responder, numa situação dessas (deus que me livre), algo assim; "Você fez quanto tempo de faculdade? ah, 4, e fez mestrado? e trabalha como reporter faz quanto tempo? sei, oito anos. E com essa formação toda você vem perguntar como eu me sinto por ter perdido a familia inteira num acidente!?! É pra isso que vocês fazem lobby pra só poder ser jornalista quem tiver a merda do CRT????"

Anônimo disse...

Fala Eric, tudo bom?

O desenho que falamos no Bistecão é o Flap Jack, que não tem video disponível para o Brasil no site do CN (@$&%*^%&$!!!). Mas tem neste blog: http://tinyurl.com/5elzh4

É bem legaus!