Oi.
O que acontece quando o Chuck Jones e o "The Clash" se encontram? Ah, não sabe quem é Chuck Jones... Seguinte, ele foi um dos maiores diretores de desenho animado de todos os tempos. Caso queira saber mais, o texto abaixo é o que há e, já que o The Clash foi uma das maiores bandas de todos os tempos, juntando os dois não dava pra dar muito errado. Deu Jimmy Jazz: o primeiro personagem criado pela Mondo Vazio.
Théckiráut aqui!
Quando querem saber de desenho, me ligam, mas cometem sempre o mesmo erro. Começam sempre com: "Você se lembra de um desen...". E eu:
"Lógico".
-Mas...
-Já falei que "lógico".
Não é falta de modéstia. É que eu caí no caldeirão quando criança. Sete horas de TV diárias por vários anos consecutivos. Devo ter assistido, sem brincadeira, umas 30 mil horas de desenho. Por isso, discutindo qualquer outro assunto, se alguém me fala que estou errado, eu blefo. Discutindo desenhos, eu truco.
A última que me aconteceu foi de uma amiga que me procurou perguntando se eu me lembrava do desenho do sapo que cantava.
"Lógico!".
Ela me disse que entre os seus amigos, o desenho ganhou um status de síndrome. Sim... "A síndrome do sapo que canta". Resumindo: um peão trabalhando na demolição de um prédio, acha uma caixa que foi colocada dentro de um bloco de concreto, um século antes. Ao abrir a caixa, vê um sapo (vivo) com uma bengala e uma cartola que salta pra fora e então ele começa a cantar. O cara, lógico, pensa em ficar rico agenciando o batráquio, mas descobre que o sapo só canta pra ele.
A síndrome do sapo que canta, segundo essa amiga, faz alusão às pessoas que têm um certo tipo de comportamento quando estão na sua frente - e na sua frente apenas. Tipo aquele primo que faz um puta papelão na sua presença e, quando você conta pra alguém que o conhece, você ouve: "o quê? Fulano fez isso? Ah, vai, magina". E é tirado de fofoqueiro e mentiroso ainda por acima.
O desenho é de 1951 e foi dirigido por Chuck Jones para a Warner. Jones é um dos grandes nomes da era de ouro da animação, mas se sentia um peixe fora d'água por ser o único intelectual entre os diretores do estúdio e um dos poucos do meio. Reclamava: "As pessoas dizem: olha lá o Chuck. Ele é engraçado e tal, mas ele foi na escola". É...! Se você vive num período onde de um lado se tem o emprendedorismo demente de Disney e, do outro, os talentos, ainda que brutos, de Avery e Clampett, ser intelectual é handicap. E intelectual ele era. Existe um certo refinamento na sua obra que vai além do habitual. E obras não mentem...
O mais impressionante sobre esse desenho é que o personagem principal (o sapo) só apareceu uma vez. Quem lembra do desenho se espanta quando digo que não foi série. Esse tipo de popularidade é raríssima. Na Warner não há paralelos. E encheram tanto os pacová do pobre Chuck que depois de alguns anos ele acabou cedendo e falando o nome do sapo: Michigan J. Frog. Por que ele demorou tanto para dizer? Por que o sapo não tinha nome. Foi exigência do público. Vox populi...
Da minha parte, acho que o desenho é uma ótima parábola sobre a ganância. Sobre como entra ano sai ano, e tudo continua a mesma coisa, embora plasticamente diferente, pois o homem, em sua essência, não muda. Já tem gente que, como descrevi antes, vê outra coisa.
Do ponto de vista técnico, nada a declarar. Afinal, é um Jones típico. Reconhecer um "Jones genuíno" é fácil. É ser capaz de imaginar tudo que passa pela cabeça dos personagens, sem que esses profiram um "A" sequer. Como o Coyote, quando percebe que o chão acabou eolha para a câmera. Todos nós já sentimos aquele misto de frustração e auto-piedade. Aquela sensação de que "se Deus está do nosso lado, então quem está contra nós". A sensação de que tem dias que a noite é foda e que por mais certo que ajamos, vai continuar tendo e sendo assim. Importante e quase esqueci. Jones também criou o Pápa-Léguas (Road Runner).
As versões em inglês foram tiradas do YouTube, provavelmente por capangas de gravata, numa tentativa inútil de impedir que as pessoasconsumam arte de graça. Tenho fé que haja um inferno. Achei uma versão em italiano. Como o desenho é mudo, a integridade sonora é mais ou menos mantida por completo (foi isso mesmo que eu quis dizer. Assista e entenderá):
Enjoy
O que acontece quando o Chuck Jones e o "The Clash" se encontram? Ah, não sabe quem é Chuck Jones... Seguinte, ele foi um dos maiores diretores de desenho animado de todos os tempos. Caso queira saber mais, o texto abaixo é o que há e, já que o The Clash foi uma das maiores bandas de todos os tempos, juntando os dois não dava pra dar muito errado. Deu Jimmy Jazz: o primeiro personagem criado pela Mondo Vazio.
Théckiráut aqui!
Quando querem saber de desenho, me ligam, mas cometem sempre o mesmo erro. Começam sempre com: "Você se lembra de um desen...". E eu:
"Lógico".
-Mas...
-Já falei que "lógico".
Não é falta de modéstia. É que eu caí no caldeirão quando criança. Sete horas de TV diárias por vários anos consecutivos. Devo ter assistido, sem brincadeira, umas 30 mil horas de desenho. Por isso, discutindo qualquer outro assunto, se alguém me fala que estou errado, eu blefo. Discutindo desenhos, eu truco.
A última que me aconteceu foi de uma amiga que me procurou perguntando se eu me lembrava do desenho do sapo que cantava.
"Lógico!".
Ela me disse que entre os seus amigos, o desenho ganhou um status de síndrome. Sim... "A síndrome do sapo que canta". Resumindo: um peão trabalhando na demolição de um prédio, acha uma caixa que foi colocada dentro de um bloco de concreto, um século antes. Ao abrir a caixa, vê um sapo (vivo) com uma bengala e uma cartola que salta pra fora e então ele começa a cantar. O cara, lógico, pensa em ficar rico agenciando o batráquio, mas descobre que o sapo só canta pra ele.
A síndrome do sapo que canta, segundo essa amiga, faz alusão às pessoas que têm um certo tipo de comportamento quando estão na sua frente - e na sua frente apenas. Tipo aquele primo que faz um puta papelão na sua presença e, quando você conta pra alguém que o conhece, você ouve: "o quê? Fulano fez isso? Ah, vai, magina". E é tirado de fofoqueiro e mentiroso ainda por acima.
O desenho é de 1951 e foi dirigido por Chuck Jones para a Warner. Jones é um dos grandes nomes da era de ouro da animação, mas se sentia um peixe fora d'água por ser o único intelectual entre os diretores do estúdio e um dos poucos do meio. Reclamava: "As pessoas dizem: olha lá o Chuck. Ele é engraçado e tal, mas ele foi na escola". É...! Se você vive num período onde de um lado se tem o emprendedorismo demente de Disney e, do outro, os talentos, ainda que brutos, de Avery e Clampett, ser intelectual é handicap. E intelectual ele era. Existe um certo refinamento na sua obra que vai além do habitual. E obras não mentem...
O mais impressionante sobre esse desenho é que o personagem principal (o sapo) só apareceu uma vez. Quem lembra do desenho se espanta quando digo que não foi série. Esse tipo de popularidade é raríssima. Na Warner não há paralelos. E encheram tanto os pacová do pobre Chuck que depois de alguns anos ele acabou cedendo e falando o nome do sapo: Michigan J. Frog. Por que ele demorou tanto para dizer? Por que o sapo não tinha nome. Foi exigência do público. Vox populi...
Da minha parte, acho que o desenho é uma ótima parábola sobre a ganância. Sobre como entra ano sai ano, e tudo continua a mesma coisa, embora plasticamente diferente, pois o homem, em sua essência, não muda. Já tem gente que, como descrevi antes, vê outra coisa.
Do ponto de vista técnico, nada a declarar. Afinal, é um Jones típico. Reconhecer um "Jones genuíno" é fácil. É ser capaz de imaginar tudo que passa pela cabeça dos personagens, sem que esses profiram um "A" sequer. Como o Coyote, quando percebe que o chão acabou eolha para a câmera. Todos nós já sentimos aquele misto de frustração e auto-piedade. Aquela sensação de que "se Deus está do nosso lado, então quem está contra nós". A sensação de que tem dias que a noite é foda e que por mais certo que ajamos, vai continuar tendo e sendo assim. Importante e quase esqueci. Jones também criou o Pápa-Léguas (Road Runner).
As versões em inglês foram tiradas do YouTube, provavelmente por capangas de gravata, numa tentativa inútil de impedir que as pessoasconsumam arte de graça. Tenho fé que haja um inferno. Achei uma versão em italiano. Como o desenho é mudo, a integridade sonora é mais ou menos mantida por completo (foi isso mesmo que eu quis dizer. Assista e entenderá):
Enjoy
2 comentários:
O desenho do sapo em italiano foi ótimo!!!!!
Chuster
Puta que o Pariu! Até que enfim alguém que sabe quem foi Chuck Jones!
Um gênio,infelizmente pouco lembrado aqui no Brasil,que dirigiu dezenas, ou seriam centenas, de episódios de clássicos como Pernalonga, Papa-Léguas e Porky Pig entre outros.
Chuck Jones também é o diretor da animação de 1970 "Horton Hears a Who" baseada no livro de mesmo nome do Dr. Seuss.Para mim um dos maiores clássicos da animação de todos os tempos.E por falar em clássicos:
http://www.youtube.com/watch?v=6lKUOhvdlug
Véio!!! Então é vc o criador do Gilsão e do Capitão São Paulo???
Não me venha com um: "É lógico".
grande abraço
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